sábado, 12 de setembro de 2009

Trigueirinho em São Paulo


Em anexo segue o convite para a próxima palestra
que Trigueirinho fará em São Paulo.

Para uma boa organização do evento,
solicitamos aos interessados que procurem
chegar ao local com antecedência,
pois a palestra tem início pontualmente.


É recomendável a leitura atenta das informações
contidas no cartaz.

Envie àqueles que considere interessados nos assuntos
tratados por Trigueirinho.

O inimigo sou eu


O inimigo sou eu

Esta é a história de uma aventura que desafia os limites do corpo e da mente. A repórter de ÉPOCA fez um retiro de meditação, no interior do Rio de Janeiro. Foram dez dias sem falar, ler ou escrever, mais de uma centena de horas imóvel. O objetivo do curso era mudar o funcionamento da mente para eliminar o sofrimento. Dos 61 participantes, cinco desistiram em diferentes etapas do percurso. A seguir, o relato dessa longa viagem pela geografia interior

ELIANE BRUM

Para onde eu fui, só havia mapa para chegar ao ponto de partida. Ele me deixou numa estradinha de terra, no interior do município de Miguel Pereira, na região serrana do Rio de Janeiro. Na porteira, estava escrito: “Meditação Vipassana”. Como eu, outras 60 pessoas desembarcaram de diferentes geografias para o início de uma viagem capaz de mudar a vida de todos. Alguns eram americanos, havia latinos de diversos países, brasileiros, a maioria. Durante dez dias, eu não poderia falar com meus companheiros de jornada. Nem olhar para eles, muito menos tocá-los. Só chegaria ao final quem conseguisse esquecer que existiam outros viajantes. Quando a travessia terminou, cinco pessoas – três homens e duas mulheres – haviam ficado no meio do caminho.

Para ser aceito nessa excursão de dez dias, cada um de nós assinara um compromisso: não roubar, não matar nenhum ser vivo (incluindo baratas e pernilongos), não mentir, não fazer sexo (nem mesmo do tipo que se faz sozinho), não usar substâncias como álcool, drogas ou medicamentos.

Antes de iniciar a expedição, abandonamos tudo o que nos ligava ao mundo exterior. Em vez de levar a bagagem, tivemos de deixá-la. Meu legado consistiu no seguinte: o livro que comecei a ler na ponte aérea São Paulo–Rio de Janeiro (O Homem Comum, de Philip Roth), um bloco de anotações, duas canetas, uma agenda de telefones, celular, fotos da família, dinheiro, cheques e cartões de banco e de crédito, carteira de identidade.

E alguns objetos de superstição que eu, agnóstica desde os 11 anos, costumo carregar por precaução científica: meu louva-a-deus da sorte (de borracha), medalhinhas de São Francisco de Assis e Nossa Senhora de Fátima, uma pedra do Deserto do Saara e um pequeno Golem (personagem da mitologia judaica).

Durante dez dias viajaríamos sempre para longe e para dentro, mas sem sair do lugar. Na janela, a mesma paisagem de folhinha de calendário: montanhas, árvores, vento e silêncio. Parecia que o mundo começava e acabava ali. Confinados em um espaço de cerca de 200 metros, os dias teriam três cenários: o refeitório, o alojamento e a sala de meditação. Homens e mulheres não se cruzariam em caminho algum. Nas fronteiras invisíveis entre os sexos, placas de madeira avisavam: “limite”.

Para mim, permanecer em silêncio por dez dias era a parte mais confortável do roteiro. Sou tímida. Olho muito mais do que falo. Sou ranzinza a ponto de achar que há excesso de ruídos no mundo, muita gente falando o tempo todo, dizendo quase nada, não escutando sequer a si mesma. O que me assustava era a imobilidade física que a viagem exigia. Eu sabia que teria de passar 12 horas por dia sentada, coluna ereta, cabeça firme sobre o pescoço. Em dez dias seriam 120 horas na mesma posição – o equivalente a um curso básico de inglês.

Meu recorde de meditação eram 15 minutos nas aulas de ioga. Não sou atleta, mas faço exercícios com regularidade há anos. Tinha acabado havia poucos meses um tratamento na coluna lombar e estava muito satisfeita por espirrar sem sofrer. Aos 41 anos, sem dores, sem bagagem e sem palavras, estava pronta para começar a me desligar de um mundo e entrar em outro.

E então o sino tocou. Eram 4 horas da madrugada do dia 1. Eu dividia um quarto pequeno, ocupado por uma cama e um beliche, com duas mulheres. Antes de o sol nascer, encontrava outras 28 companheiras no banheiro coletivo em silencioso mau humor. Um dia uma delas encarou o espelho, puxou o cabelo para cima e, com o olhar vidrado, disse em voz alta para si mesma: “Você está ficando doida”. Depois, no refeitório, ela olhou para a banana que comia e teve um ataque de riso.
"Viajaríamos sempre para longe e para dentro, mas sem sair do lugar. Um dia ela encarou o espelho, puxou o cabelo para cima e, com o olhar vidrado, disse: ‘Você está ficando doida’"

Às 4h30, estávamos sentadas no chão, sobre um fino tapete, cada uma em seu lugar determinado. O professor entrou na sala e sentou-se em posição de lótus sobre um tablado. Era magro, comprido e careca. Gastei um tempo considerável pensando com qual personagem de animação ele se parecia, mas não cheguei a nenhuma conclusão. Ele espichou o braço e ligou um aparelho de CD. Ouvi, pela primeira vez, a voz do mestre de origem indiana S.N. Goenka falando num inglês carregado. Depois, suas instruções eram traduzidas para o português em outra gravação.

Na primeira instrução, Goenka mandou... respirar.

Inspira, expira, inspira, expira, inspira, expira, inspira, expira, inspira, expira, inspira, expira, inspira, expira, inspira, expira, inspira, expira, inspira, expira, inspira, expira, inspira, expira, inspira, expira, inspira, expira, inspira, expira, inspira, expira, inspira, expira, inspira, expira, inspira, expira, inspira, expira, inspira, expira, inspira, expira, inspira, expira, inspira, expira, inspira, expira, inspira, expira, inspira, expira, inspira, expira, inspira, expira, inspira, expira.

Um minuto. Se o parágrafo anterior for repetido 660 vezes, é possível ter uma idéia aproximada do primeiro dia do curso de meditação vipássana. A estréia ocuparia 134 páginas de revista, uma edição de ÉPOCA inteira, preenchida apenas com a observação do “ar que entra, o ar que sai; assim como entra, assim como sai”.

A tarefa era apenas observar a respiração, de olhos fechados, sem interferir. Desde o primeiro dia, somos ensinados a observar “a realidade como ela é”. Minha grande descoberta nessa estréia foi perceber que o ar não entra sempre pelas duas narinas e sai pelas duas, mas às vezes entra pela direita e sai pela esquerda. Ou vice-versa.

Isso foi instigante nos primeiros cinco minutos. Nos outros 640, tive de vencer o tédio e a sonolência, nem sempre com êxito. A agenda era rígida e imutável: acordar às 4 horas; das 4h30 às 6h30, meditar; das 6h30 às 8 horas, tomar café-da-manhã; das 8 às 11 horas, meditar, com um intervalo de dez minutos; das 11 às 12 horas, almoçar; das 12 às 13 horas, inscrever-se, se quiser, para fazer perguntas privadas ao professor; das 13 às 17 horas, meditar, com dois intervalos de dez minutos; das 17 às 18 horas, lanchar; das 18 às 19 horas, meditar; das 19 horas às 20h15, escutar uma palestra na mesma posição de meditação; das 20h15 às 21 horas, meditar seguindo novas instruções; das 21 horas às 21h30, fazer perguntas públicas ao professor. Das 21h30 às 22 horas, preparar-se para dormir. Às 22 horas, a luz se apagava.

E tudo recomeçava às 4 horas da madrugada do dia seguinte, com o sino. E com o sino tudo terminava, 18 horas depois – dez horas e 45 minutos preenchidos com meditação, uma hora e 15 minutos de palestra e seis horas para comer, tomar banho e descansar. O sino marcava os horários de início e fim das meditações, início e fim dos intervalos e também as refeições. Era o som da vida no retiro.

Às 4 horas, eu me contorcia dentro do saco de dormir. Dava, literalmente, o primeiro de uma série de gritos silenciosos. Eu me sentia a pintura mais famosa do Edvard Munch. À noite, eu, uma insone crônica, dormia no minuto em que me deitava. Nunca tinha pensado que observar a respiração pudesse ser mais extenuante que um fechamento da revista. Ou uma rave. Mas era. Muitos pensam que meditação é um descanso, um relaxamento. Descobri que era uma s maratona da mente. Eu estava imóvel, mas dentro de mim parecia que eu corria descalça a São Silvestre.

Na última meditação da noite, recebíamos as novas instruções. Na noite 1, soube que no dia 2 observaria “o pequeno toque do ar ao entrar pelas narinas”. Sem interferir. Pode parecer incrível, mas eu ansiava por esse momento: passar da observação do ar que entra e o ar que sai para o toquezinho no nariz era um instante de grande dinamismo.

Descobri que não tinha nenhum controle sobre minha mente. Parece óbvio, mas achar que controlamos nossa vida é uma das grandes ilusões contemporâneas. E eu sempre a tive em alta conta. Manter a mente no exato momento presente é um desafio: em geral, estamos no passado (nostálgicos ou lamentosos) ou no futuro (antecipando catástrofes ou adiando possibilidades). Aqui, agora, pouco estamos.

Desde o início, Goenka, o mestre da vipássana, pedia que cada aluno desse “uma chance justa à prática”. Sua proposta era semelhante ao método científico. Não acredite, duvide. Teste. Mas faça isso com rigor para que os resultados sejam confiáveis. Pareceu-me uma proposta honesta. Era uma apuração pouco ortodoxa, mas dediquei-me a ela com o mesmo rigor de uma reportagem sobre grilagem de terras na Amazônia ou crimes na internet – dois temas mais familiares a minha vida de repórter.

No segundo dia, isso significava obrigar minha mente a voltar para o toque do ar entrando pelo nariz a cada uma das centenas de vezes em que ela decidiu pegar uma rota alternativa sem me consultar. A concentração transformou meu mundo numa espécie de filme de Zhang Yimou, o cineasta chinês que filma como um pintor impressionista. Em suas imagens cada folha tem nuances, textura, é parte de um conjunto harmonioso. Eu percebia o vento em câmera lenta, a luz filtrada pelas nuvens no céu. Iniciei uma exploração sem palavras, pelos sentidos. Captava as mulheres a meu redor sem ouvi-las. Por algumas, tive uma aversão instintiva. Outras me despertaram ternura e uma afinidade profunda.

No terceiro dia, devíamos prestar atenção no triângulo cuja base é formada pelo lábio inferior, e cujo vértice pelo final do nariz. Nossa missão era perceber cada sensação nessa área. Coceira, calor, frio, amortecimento, pressão, dor. Sem julgamentos. E sem apego. Eu observava uma cócega na ponta do nariz, em seguida a abandonava por um amortecimento no lábio inferior, e assim por diante. Na hora do almoço, meu nariz sangrou. Não liguei muito porque estava com fome.

Nesses primeiros dias, eu era muito dedicada à comida, me apressava a ser a primeira da fila. Fazíamos duas refeições e um lanche. Toda alimentação era vegetariana. Eu, uma comilona convicta, tinha me despedido do mundo exterior com uma feijoada. À meia-noite, havia devorado uma caixa de bombons. Era minha estratégia para enfrentar tempos de Scarlett O’Hara, a heroína de ...E o Vento Levou. No retiro, comecei comendo tudo o que me ofereciam, de mingau sem identificação a berinjela.

No terceiro dia, quando deitei ao sol depois de um delicioso arroz integral com o que pareceu ser carne de soja, percebi que uma formiga estava presa na manta. Tentei libertá-la, mas no afã heróico de salvá-la devo ter me excedido, porque ela desencarnou. Esse cadáver me doeu mais que qualquer crime do passado. Homicídio culposo, defini. Não houve dolo, intenção. Devo fazer um B.O.?

Debati-me por alguns minutos com essa questão. Afinal, eu havia assinado o compromisso de não matar nenhum ser vivo. No dia anterior, eu tinha capturado uma perigosa aranha marrom que passeava pelo colchão. Corri risco para devolvê-la ao mato sã, salva e letal. E agora essa fatalidade. Decidi então me abster de uma confissão pública. Compensaria meu crime quando saísse de lá. Daria imortalidade à formiga. Criei um argumento para um filme em que ela seria a personagem principal. Eu faria um roteiro para uma animação da Pixar.

Seria assim. Insetos nascidos e criados no Parque do Ibirapuera, em São Paulo, estão cansados de enterrar cadáveres esmagados por tênis aerodinâmicos. Descobrem, então, que existe um lugar onde matar insetos é contra a lei, crime punido com sofrimentos atrozes nas 20 encarnações seguintes. Partem em busca da terra prometida e, depois de uma série de tribulações, alcançam o templo budista. Era tudo o que haviam prometido, mas o lugar estava infestado de pregadores que descobriam todo dia um demônio novo no corpo da formiga e de seus amigos. Incapaz de suportar mais um exorcismo sem rir, minha formiga se tornaria líder de um movimento pelo Estado laico. Interrompi nesse ponto porque o sino tocou chamando para a meditação. Na hora, me pareceu um réquiem genial para a formiga. Agora, com o salutar distanciamento dos dias, começo a aceitar a idéia de que a Pixar talvez não perceba o brilhantismo do argumento.

No intervalo seguinte lembrei que aos 9 anos eu havia escrito meu primeiro romance depois de esmagar um filhote de barata. Eu não era ré primária, portanto. Tinha antecedentes. Ainda havia sangue em minhas mãos quando comecei a imaginar a dor da dona barata voltando do trabalho com o jantar e deparando com o corpo do filho, estatelado no meio-fio do corredor lá de casa. No romance, eu expiava a culpa me retratando como uma assassina “fria e calculista” porque ainda não conhecia a palavra “psicopata”. Chamei a “obra” de “Autobiografia de uma barata” e, por tê-la cometido, eu merecia cadeira elétrica. Estava nesse ponto das minhas recordações quando tocou o sino para mais meditação.

Essa era minha situação no terceiro dia.

No quarto, a cada intervalo emergiam do meu inconsciente lembranças que eu não sabia que tinha. Gente que eu havia esquecido, episódios apagados. Alguns dramáticos, outros singelos, um repertório bem variado. Lembrei, por exemplo, do Chico, um menino deficiente que estudava comigo na 1a série. Ele gostava de mim porque eu era a única colega que falava com ele. Um dia ele foi brincar comigo e, num arroubo de amor, jogou o balanço na minha cabeça, causando comoção na escola.

Essas imagens emergiram de mim como um filme remasterizado. Eu me senti mal porque tinha vergonha quando o Chico dizia que eu era a namorada dele. Aos 7 anos, eu não queria ser namorada de um menino “diferente”. Eu me lembrei da irmã dele, que estudava na mesma sala e passava o tempo todo sozinha. Tive vergonha por não ser tão bacana quanto o Chico achava que eu era. Coisas assim surgiam o tempo todo. Pronto, abriram os portões do inferno, pensava.

A tarefa estimulante desse período era observar as sensações que ocorriam no ínfimo pedaço de pele entre o final do lábio superior e o início do nariz. Para “afiar a mente”, explicava Goenka. Era domingo. E era só o primeiro domingo que eu passaria lá. Mais uma semana inteira viria – e um feriadão. E eu seguiria não apenas no mesmo lugar, mas na mesma posição.

Às 4h30 da madrugada, sentada com as pernas cruzadas na sala de meditação, tentando observar o que acontecia no espaço de 1 centímetro de comprimento acima da minha boca, abaixo do meu nariz, por determinação de um indiano que me dava ordens em inglês por meio de um aparelho de CD, eu tive um pensamento ruim sobre meu chefe. Mas passou.

Na tarde do quarto dia se encerrou o período preparatório. Havíamos aprendido uma técnica de meditação chamada anapana, para domar uma mente acostumada a ir aonde bem entende, ensiná-la a nos obedecer e torná-la capaz de perceber sensações muito sutis em espaços muito pequenos do corpo.

Até então, era permitido mover uma mão ou esticar uma perna, abrir os olhos por um momento, se precisasse muito, ir ao banheiro. Na vipássana, deveríamos tentar não mover pernas e braços durante as instruções e, até o fim do retiro, passar uma hora, três vezes ao dia, absolutamente imóveis. E, nas demais, tentar nos mexer o mínimo possível. Segundo Goenka, uma hora sem movimento é o mínimo necessário para atingir níveis mais profundos do corpo.

A meditação vipássana consiste em observar as sensações de cada milímetro do corpo: começamos pelo topo da cabeça e vamos descendo, no máximo um minuto em cada lugar, até chegarmos ao pé. Repetimos esse itinerário interno centenas de vezes, hora após hora, de cima para baixo, de baixo para cima.

Naquele momento lembrei-me de outra viagem insólita, a do francês Xavier de Maistre, em 1790. Ele era um desbravador de geografias perigosas. Mas naquela primavera, vestindo um pijama de algodão rosa e azul, ele empreendeu o que chamou de “Viagem ao redor do meu quarto”. Mais tarde, fez ainda uma segunda etapa: “Expedição noturna pelo meu quarto”. De Maistre gastou um bom tempo admirando a elegância dos pés de seu sofá, assim como eu fiquei extasiada com a quantidade de sensações na minha orelha esquerda.

De Maistre propunha um novo olhar para a paisagem supostamente entediante do cotidiano: o olhar do viajante, o sentido do extraordinário. Lembrei-me dele ao iniciar minha longa jornada corpo adentro. Em minha primeira hora, além de detectar as sensações do corpo, senti os grandes tormentos que me acompanham vida afora: o temor de não conseguir s fazer alguma coisa (naquele momento, sentir as sensações), claustrofobia (no meu caso, pânico de ficar presa na escuridão do meu corpo), medo de morrer (tive taquicardia e pensei que meu coração cessaria de bater). Isso tudo passou pela minha cabeça em menos de cinco minutos, nessa ordem.

Percebi sensações em quase todo o corpo, me apavorei com a escuridão nos primeiros minutos, mas não fiquei presa dentro de minhas entranhas, nem morri. Passamos a vida sem perceber no corpo nada além das sensações óbvias de prazer ou de dor. Na trilha cartesiana (“penso, logo existo”), fizemos uma cisão entre corpo e mente. Em nossa época, essa ruptura atingiu seu ápice: o corpo foi reduzido a pouco mais que um objeto de intervenção, malhado ou modificado para o olhar do outro; um estranho para nós mesmos.

De repente, descobri que um universo complexo me habitava, com manifestações tão desconhecidas que nem sequer conseguia nomear. Guardadas as proporções, é como passar a vida olhando o oceano da praia e um dia mergulhar. Senti certa euforia com esse novo mundo descoberto no lugar mais óbvio e improvável. Como o russo Yuri Gagarin, tive vontade de gritar: “Meu corpo é azul!”.

Vipássana significa “insight”, “visão interior”. Segundo seus mestres, é a meditação usada pelo próprio Buda, 2.500 anos atrás, em sua busca pela iluminação. Ao longo dos séculos, foi sendo corrompida e se diluiu na Índia. Manteve-se, porém, em Mianmar, antiga Birmânia, país que virou manchete da imprensa mundial no fim de setembro, quando monges budistas entraram em sangrento confronto com o governo militar pelas ruas do país. Goenka é hoje o mestre de vipássana mais conhecido e o principal divulgador da técnica pelo mundo. No Brasil, a vipássana apareceu em 1994, e o primeiro centro em 2003. Nos cursos, todo trabalho é voluntário, inclusive o dos professores, para “evitar exploração comercial”. Ao final, os alunos podem doar qualquer quantia ou trabalho. Ou não dar nada.

A idéia básica está presente em diferentes linhas do budismo: o que nos faz sofrer é o apego. Na vida, o apego se manifesta por uma reação de cobiça ou aversão. Queremos continuar sentindo o que nos dá prazer e não aceitamos sentir o que nos causa algum tipo de dor. Se aprendermos a arte do desapego – ou seja, não cobiçar o prazer nem sentir aversão pela dor –, a fonte do sofrimento estanca. Para isso, precisamos compreender que a vida é impermanência. Que nada dura, nem o prazer nem a dor. É necessário realmente entender que tudo é efêmero e, portanto, só a ignorância nos leva a qualquer tipo de apego – e ao sofrimento.

A vipássana é uma prática. Sem a prática, os mestres acreditam que a filosofia se torna vazia, um exercício intelectual sem importância. No curso, é ensinado que Siddhartha Gautama, o Buda histórico, teria percebido que cada reação de aversão ou cobiça causa uma espécie de nó em nosso corpo. E só removendo – fisicamente – esses nós, e não fazendo outros, poderíamos parar de sofrer. Como técnica, a vipássana pode ser usada por adeptos de qualquer religião ou de nenhuma.

Um exemplo prosaico. Eu adoro comprar sapatos. Buda poderia dizer que não é o sapato que compro – e Karl Marx concordaria... O que busco é repetir a sensação que sinto ao comprar um sapato. Não percebo que, por mais que gaste meu salário tentando transformar uma sensação prazerosa em permanente, ela vai passar e vou ter de gastar mais dinheiro para repeti-la. É cobiça, é apego. É ilusão.

Se Buda tivesse conhecido esse mundo de consumo, provavelmente o veria como uma fonte permanente de sofrimento causado pela cobiça. Nós nos tornamos escravos das sensações, com todas as implicações na vida que a escravidão representa. Uma pessoa pode passar a vida num emprego ruim, mas com um bom salário, só para ter a sensação efêmera causada pelo ato de consumo. Ou pelo poder que um cargo de chefia supostamente lhe dá. Ou pela sensação oposta, mas igualmente de apego, que é aversão à idéia de que não sabe o que vai acontecer se tentar algo novo na vida.

Essa idéia, a maioria de nós já ouviu por aí ou leu num livro de auto-ajuda. Mas compreender algo intelectualmente é fácil. Mudar é bem mais difícil. Quem faz anos de terapia às vezes se desespera porque já entendeu as razões que o levam a um tipo de comportamento destrutivo. Mas entender não é suficiente. Mudar é o processo mais difícil na vida, especialmente mudar o funcionamento da mente desde que nascemos. É aí que entra a técnica de meditação vipássana.

No quinto dia, eu estava encantada pelas sensações recém-descobertas no meu corpo. A ponto de esquecer a parte principal e mais difícil da prática: ser equânime. Observar, sem reagir, as sensações sutis e também as grosseiras. Na vipássana, essas são as duas únicas categorias para classificar as sensações. Eles não chamam sensações grosseiras de dor ou dizem que um arrepio de prazer é bom porque implicaria um julgamento da realidade, o início do apego.

O objetivo é aprender a olhar o prazer e a dor com a serenidade de quem sabe que tanto um quanto o outro vão mudar, passar. Isso não significa que vamos virar uma alface, apenas que não é necessário surtar de alegria ou desesperar-se quando algo dá errado. A verdadeira felicidade, segundo a vipássana, é a paz interior conquistada pela consciência de que não podemos controlar nem o mundo nem os outros, mas podemos controlar como vamos lidar com o mundo e com os outros. Sem aversão ou cobiça, é possível viver o presente sem ansiedade pelo sofrimento futuro ou nostalgia pelo passado.

Tudo isso eu ouvia repetidamente no curso – e entendia. Mas, até o quinto dia, só compreendi da forma habitual: intelectualmente. À noite, experimentei o que depois o mestre chamaria de “fluxo”. Havia sensações por todo o meu corpo. Uma corrente de energia subia e descia por ele. Ao deixar a sala de meditação, tive uma percepção do céu estrelado semelhante a uma viagem com alucinógenos. Entrei no meu saco de dormir muito contente comigo mesma e, pela primeira vez, ansiosa pelo sino das 4 horas da madrugada.
Descobri que um universo complexo me habitava, com manifestações novas e desconhecidas. Foi como passar a vida olhando o oceano da praia e,
de repente, mergulhar

Eu achava que já sabia tudo, mas na verdade tinha cometido um erro primário: me apegara a uma sensação prazerosa e acreditava poder controlar a realidade para repeti-la. Cobiça.

O sino tocou e, pela primeira vez, levantei animada. Era o sexto dia. Na primeira hora sem me mover, comecei a ter uma dor forte nas costas, logo abaixo do ombro direito. Primeiro, pensei que havia dado um mau jeito ao me alongar, quando acordei. Ao final da manhã, a dor aumentava sempre que eu me sentava e desaparecia depois de alguns minutos deitada.

De novo, eu fazia o oposto do que me ensinaram: havia me apegado a uma sensação dolorosa e tentava controlar a realidade para que ela desaparecesse. Aversão.

Finalmente entendi: eu não havia dado um mau jeito, essa dor era causada por permanecer sentada. E, se essa era a razão, fiz as contas, eu teria mais quatro dias e meio de sofrimento, 54 horas de dores horríveis. E, se estava ruim naquele momento, pela lógica pioraria muito porque eu continuaria na mesma posição.

Disse um palavrão em perfeito silêncio. E chorei pela primeira vez. Percebi como eu havia sido prepotente ao imaginar que havia atingido uma espécie de iluminação e por me achar tão importante por causa disso. É difícil explicar, mas chorei por ter me percebido demasiado humana.

Pela primeira vez, me inscrevi para falar com o professor, após o almoço. Nesse momento, ele fica sentado no tablado e cada aluno, individualmente, senta-se no chão diante dele. Como discípulos, ficamos um nível abaixo do mestre. Eu disse: “Professor, costumo suportar bem a dor, mas estou sentindo uma dor muito forte nas costas e sei que ela não vai melhorar porque vou continuar sentada na mesma posição”. Ele olhou para mim, abriu um largo sorriso, espichou aqueles braços enormes e disse: “Aceita a dor”. E me despachou.

Eu juro. Saí dali achando que ele tinha dito a coisa mais inteligente que eu já tinha ouvido. O homem é muito carismático, pensei. Ou estou desenvolvendo uma síndrome de Estocolmo – o afeto que a vítima sente pelo seqüestrador como um mecanismo para suportar a pressão de estar nas mãos de um desconhecido.

Na hora seguinte, continuei sentindo a dor nas costas, mas ela ficou pequena diante do tremor involuntário do braço direito. Ele parecia ter dolorosa vida própria. Intervalo, lanche e, sim, não me preocupei mais nem com a dor nas costas nem com o braço direito, porque a perna esquerda latejou durante uma hora inteira.

Eu aprendia que até as dores são impermanentes, desaparecem, mudam de lugar. Não há como prever o que vai acontecer na próxima meditação. E, quando eu pensava que era possível prever pelo menos que eu sentiria dores, tive uma meditação repleta de sensações deliciosas.

A vipássana ensina, da forma mais dura (e inesquecível), que existe uma realidade interna para a qual nunca olhamos porque fomos ensinados a acreditar que tudo acontece no mundo externo. Segundo, que não controlamos nem a realidade s externa nem a interna. Mas essa é uma lição bem difícil de aprender na prática. Meu último pensamento antes de dormir foi: acho que me acostumei com a posição e não vai mais doer.

Como de hábito, eu estava enganada. Na primeira hora da meditação do sétimo dia, tive mais dores horríveis nas costas e no braço direito. Enquanto tentava me concentrar em cada parte do corpo, imaginei várias formas de escapar da dor e me responsabilizei por ela – se eu tivesse pelo menos trazido um antiinflamatório, tudo estaria resolvido. Em seguida, uma série de gritos ecoava dentro de minha imóvel figura – essa gente é doida, essas pessoas não passam de torturadores, isto aqui é uma insanidade, não faz nenhum sentido, preciso fugir deste lugar a-go-ra, já.

No intervalo, compreendi. Eu só tinha duas opções: ou ia embora, ou teria de vencer essa guerra travada no território do corpo. Fazer as malas e cair num mundo que agora me parecia muito confortável era o que uma parte considerável de mim desejava. Mas havia outra que sempre foi mais forte. Não gosto de desistir e nunca deixei uma reportagem pela metade. A rigidez do curso de meditação se encaixava perfeitamente no meu jeito de funcionar. E eu queria muito saber como tudo isso acabava.

Sentia prazer ao imaginar a seqüência de cenas: a recuperação da bagagem, o motorista chegando para me buscar e, em duas horas, o chope à beira da praia, no Rio. A vida que eu conhecia. Eu quase podia sentir o chope descendo pela minha garganta. Mas essa opção estava excluída. Por mim.

Assim, o que me aguardava era um desafio. Eu teria de realmente compreender vipássana, compreender na prática, para parar de sofrer. Esse era o ensinamento completo. Eu teria de sentir a dor – ou emoção grosseira – e olhar para ela com “equanimidade”. Sem cobiça – e sem aversão. Sem apego. Com a consciência de que não posso controlar a realidade, mas posso controlar como vou lidar com a realidade.

Nessa guerra no território do corpo, o inimigo era eu. Parar de sofrer dependia apenas de mim. E eu tinha acabado de descobrir que, ao contrário do que eu acreditara até então, eu não era resistente à dor. Sempre fui orgulhosa demais para admitir que sentia dor, porque sempre confundi fragilidade com fracasso. Chorei de novo. Dessa vez, porque percebi que essa era a luta mais difícil.

Sempre tive uma enorme dificuldade de aceitar a realidade. Por um lado, isso é ótimo, porque faz andar, criar, transformar. Por outro, há momentos em que não é possível mudar a realidade, só nos resta aceitá-la. Mas, para isso, é preciso aceitar algo ainda mais difícil: nossas limitações. As minhas, no caso. Sempre me debati muito contra aquilo que não podia mudar. Minha onipotência chegava ao extremo de pensar que, se não consegui mudar algo, é porque não fiz o suficiente. Eu sabia muito sobre brigar para mudar alguma coisa, mas pouco sobre aceitar o que não podia mudar.

Dessa vez, eu não poderia mudar a realidade. E, se seguisse com minha onipotência, tentando encontrar um jeito mágico de permanecer 12 horas por dia na mesma posição sem sentir dor, eu só aumentaria meu sofrimento. Decidi então aprender a olhar a dor – ou o prazer (parece mais fácil, mas não é) – com a serenidade de quem sabe que é efêmero. Nesse dia, fui a última a comer. Tinha perdido a fome.

No oitavo dia, na minha vez de fazer perguntas ao professor, ele disse: “Aceita quem você é”. Eu fui chorar no meio do mato. Era difícil olhar para mim mesma sem nenhuma máscara. O que ele disse pode ser uma obviedade, mas soou como uma redenção, porque eu compreendia não apenas intelectualmente, mas na prática. Eu estava havia oito dias isolada dentro de mim, nos últimos três sentira dores terríveis, tinha perdido 3 quilos e encarava todos os meus demônios no olho. Era uma situação-limite.

Na tarde do oitavo dia, consegui praticar vipássana. Em minha viagem por cada centímetro do corpo ou apenas seguindo o fluxo de sensações, eu encontrava as regiões “duras”, dolorosas. Sentia, investigava por um minuto, como se fosse uma cientista examinando um território neutro, e seguia sem desespero.

Aos poucos, eu sentia mais a dor nas costas e no braço direito nos intervalos da meditação. Quando permanecia dentro de mim, esquadrinhando o corpo e aprendendo a observar a realidade com equanimidade, me mantinha serena. A dor se tornava difusa, porque eu sentia uma infinidade de sensações ao mesmo tempo.

Passei a ter muitos sonhos e pesadelos. Não era a única, descobri depois. Havia quem gritasse dormindo, rompendo involuntariamente o “nobre silêncio”, como era chamada a regra de não falar durante dez dias.

Na noite do oitavo dia, acordei assustada, porque meu corpo inteiro meditava à revelia da minha consciência. Segundo o mestre, é o inconsciente que está o tempo todo desperto, registrando todas as sensações. É ele a parte mais consciente da nossa mente – e não o que chamamos de consciência, que opera apenas na superfície. Naquela noite, meu corpo inteiro era um fluxo de energia muito forte, com tantas sensações diferentes que eu poderia jurar que me movia.

Era tanto movimento interno que acordei – uma experiência ao mesmo tempo extraordinária e assustadora. Isso continuou madrugada adentro. E, depois, por muitas outras noites, mesmo ao voltar para casa. Eu estava submersa em mim mesma.

Mas, de novo, não tanto quanto eu imaginava. A garota que sentava a meu lado tinha falado em voz alta, quase gritando. Era a hora das perguntas públicas. Quem quisesse falar poderia se sentar diante do professor, um de cada vez. O professor brilhava nesses momentos, sempre com um excelente humor britânico. Quando uma das alunas descreveu longamente seu drama por causa da almofada que escorregava, numa oposição flagrante a sua imobilidade, esperando uma resposta filosófica, ele se limitou a dizer, impassível: “Talvez você pudesse trocar de almofada”.

Naquela noite, minha vizinha escutou a pergunta de um dos alunos, sobre “amor, paixão e apego”, e quis emendar a sua, lá de trás. Foi silenciada e, no dia seguinte, partiu. A meu lado, sentou-se uma mulher que lidava com a angústia da situação da forma mais básica: tentando falar com as colegas do quarto, se mexendo muito, fazendo o máximo barulho possível. Enfim, tentando quebrar todas as regras. Eu pensava: mas por que ela simplesmente não vai embora? Provavelmente porque, assim como para mim, para ela não era simples ir embora.

De um lado da sala ficavam os homens, do outro as mulheres. Eu sentava exatamente no limite do espaço das mulheres. Do meu lado esquerdo havia um homem, do direito uma mulher. Entre mim e meu colega havia uma cortina que ele abria e eu fechava, dia após dia. Minha nova vizinha acolheu os olhares do galã do retiro.

A cena era a seguinte: eu no meio, de olhos fechados, imóvel, tentando aprender a olhar para a dor com serenidade, e os dois falando com movimentos da boca, mandando beijos, ela puxando as saias até as coxas. Agora, escrevo e acho engraçado. Mas, na hora, eu queria muito poder falar e, digamos, tocar.

Sempre fui intolerante com as pessoas que, na minha opinião, pioram o mundo. A frase famosa de Sartre, “o inferno são os outros”, sempre foi uma espécie de mantra para mim. Além de me incomodar estar no meio de um fogo cruzado não tão silencioso, eu achava inaceitável alguém desrespeitar as regras do lugar onde era hóspede. De novo, eu tinha duas opções: falar com o professor ou vencer minha aversão. Chorei de novo ao apalpar o tamanho da minha intolerância.

Decidi que estava na hora de aprender a lidar melhor com as agruras da realidade externa. Se conseguisse, eu teria grande chance de não perder mais nenhum minuto de sono sempre que alguém fizesse ou dissesse algo desagradável – ou simplesmente existisse a minha revelia.

Consumi o nono dia inteiro nessa briga interna. Pela manhã, eu rangia os dentes sempre que os dois se mandavam recados. Tudo o que consegui foi uma dor no maxilar. À noite, eu havia me tornado quase uma monja. Parei de ouvi-los, mergulhei em mim.

De qualquer modo, mais alguém se incomodou, porque no décimo dia a cortina estava grudada na parede com fita adesiva. A essa altura, a situação que horas antes havia se tornado um tormento que contaminava todos os meus pensamentos me pareceu bem engraçada. E era: duas pessoas adultas, num retiro de meditação, tentando namorar sem poder falar nem se tocar. Isso era desespero.

Na manhã do décimo dia, eu tinha dores nas costas, no braço direito e quase não podia sentar. Mas isso não me perturbava mais. O mestre ensinou a parte final, chamada metta. Nela, emergimos do nosso interior para, nos minutos finais, darmos ao mundo e às pessoas nossas melhores vibrações de paz.

Não fui capaz de transmitir muita paz ao mundo. Minha mente foi tomada por recordações muito dolorosas, que eu havia evitado mesmo em anos de sessões de psicanálise. Decidi não fugir delas. Senti doença em meu corpo, pensei que teria uma gripe muito forte. Quando acabou, tudo em mim doía, eu era território arrasado. O mestre disse que havíamos feito s uma “cirurgia na mente”, para mudar um jeito muito arraigado de funcionar. Eu me sentia exatamente assim, despertando depois de uma cirurgia. Mas uma sem anestesia.

Eu não queria voltar a falar. Naquele momento, o silêncio era uma proteção. Mas acabou. Teríamos uma tarde de adaptação ao mundo exterior, e o curso acabaria com meditação na madrugada do 11o dia. Para minha surpresa, muitas mulheres queriam falar para poder reclamar do comportamento das outras, das que falavam, roncavam, espirravam, fungavam. Mal abrimos a boca, uma corrente de fofocas já percorria o retiro.

Ao longo do curso, percebi como não falar fazia bem não só para a vida interior, mas para a comunitária. Se cada uma de nós pudesse falar, certamente teria havido cisões, mágoas, alianças, discórdia. E por motivos que não eram tão importantes, motivos que se perderam ao longo dos dias. É o que acontece em nossa vida cotidiana. Estamos em geral confinados ao espaço do trabalho ou da casa, e a maior parte do que nos parece muito importante, definitivo, é só um momento que passa. Quando falamos, materializamos, damos início a uma corrente de reações em cadeia.

Assim que soou o sino anunciando a libertação de todas as línguas, me deu vontade de escapar daquelas mulheres falantes: naquele momento eram 27, contando comigo, a maioria falando muito e ao mesmo tempo. Eu fugiria disso em qualquer circunstância. Mas comecei a gostar de muitas delas, a gostar de ouvi-las.

Procurei me aproximar de todas para descobrir o que mudava na minha primeira percepção agora que escutava suas vozes. Nada. Tive afinidade pelas que já havia sentido e preferi continuar afastada das que evitava. Passei o resto do dia tomando água de dez em dez minutos, porque minha garganta secava, eu só conseguia falar bem devagar.
Percebo imediatamente quando estou vivendo algo especial. E descarto os acontecimentos desagradáveis no minuto seguinte. Minha vida ficou mais larga

No exato momento em que escrevo, faz duas semanas que voltei dessa viagem interior. Parece muito mais. No início, eu não conseguia escrever nenhuma linha. Assim que recuperei meu bloquinho, ainda no retiro, tentei anotar o que tinha acontecido, mas não consegui. A única palavra que escrevi foi esta: “palavra”.

Era difícil tornar qualquer coisa permanente depois de compreender – de forma tão radical – a impermanência da realidade. Eu, que me tornei jornalista na ânsia de capturar o real, me encontrei nesse impasse. Escrever era tornar permanente o momento, o acontecimento fugaz, era impedir que algo fosse embora. Parecia impossível voltar a fazer isso. Na ponte aérea da volta, peguei o jornal e nenhuma notícia parecia fazer sentido, ter importância.

Tinha dificuldade também com as memórias. No início do retiro, percebi que se tornava cada vez mais difícil lembrar o que havia pensado ou sentido no dia anterior. Depois, tornou-se complicado fixar o pensamento nas horas anteriores. Do mesmo modo, eu também não conseguia fazer planos para os dias posteriores. Eu estava sendo treinada para, pela primeira vez, não viver no passado nem no futuro, mas no presente.

Na minha primeira noite em casa, tive um pesadelo, daqueles em que sabemos que estamos dormindo. Arranhei minha perna com as unhas na tentativa de acordar. Então, no sonho, minha espinha se partiu, e uma espécie de duplo saiu das minhas entranhas. Acordei com o fluxo de sensações subindo e descendo pelo meu corpo.

Nos dias seguintes, as dores não foram embora. Procurei ajuda. Fiz um exame de ressonância magnética. Minha coluna não é muito bonita de ver. Eu tinha uma escoliose que não fora diagnosticada porque nunca havia incomodado. Eu poderia passar o restante da minha vida sem ter nenhum sintoma, porque o corpo vai encontrando seus caminhos de compensação – ou poderia ter problemas daqui a dez ou 20 anos.

Mais de uma centena de horas na mesma posição em dez dias desencadearam uma crise severa na coluna cervical. Comecei a sentir perda de força e motricidade no braço direito. Coisas banais como amarrar o cadarço do tênis, escrever à mão, teclar o celular tornaram-se complicadas. Minha letra piorou a ponto de eu mesma não entendê-la. Uma semana depois da minha volta, eu não conseguia sentar para comer ou escrever sem sentir dores muito fortes. Estava difícil levar o garfo à boca, digitar no teclado do computador. Este texto foi escrito lentamente, com dor.

O médico e a fisioterapeuta que me atenderam, ambos profissionais excepcionais, são taxativos ao desaconselhar um curso de dez dias com essa quantidade de horas na mesma posição. Na opinião deles, algo assim deveria ser feito progressivamente, ao longo de muito tempo, para preparar o corpo. Tudo o que é em excesso não teria harmonia. Eles têm razão. É como correr uma maratona sem nenhum treinamento.

Pode ser que eu mude de idéia mais tarde, mas hoje não me arrependo de ter chegado até o fim. O efeito que a vipássana teve em minha vida supera os problemas na coluna que ela desencadeou. Acredito, porém, que as pessoas precisam saber que podem ter problemas. Tem de ser um risco assumido, uma escolha. No caso de uma pessoa com a coluna absolutamente saudável, é claro, a chance de seqüelas é menor.

Desde o início, me impressionou o rigor do curso de vipássana num mundo de tantos relativismos, em que sempre se pode dar um jeito, burlar uma regra ou outra. Nos dez dias, as regras eram mantidas, cobradas, fiscalizadas de perto. Bastava alguém tentar escorregar um pouco para que a responsável pelas mulheres já mandasse sentar direito. Era preciso ser sério ou então ir embora. Não era um espaço de negociações.

Surpreendeu-me que apenas cinco pessoas tenham desistido. Menos de 10%. Estou acostumada a situações-limite, tenho grande resistência à pressão, mas pensei seriamente em desistir. Era difícil ficar. E a maioria permaneceu, chegou até o fim. Isso pode significar que há uma busca por rigor – e por limites – neste mundo de permissividades que permeia da política às relações pessoais. Há uma busca por algo que seja real – e não apenas uma promessa fácil de auto-ajuda.

E há também uma necessidade de sentir. Nossa época acredita que é possível viver sem sentir nenhum tipo de dor, física ou psíquica. Não ter dor se tornou quase um direito. Basta uma pontada na cabeça, que já corremos a tomar uma pílula. Basta uma tristeza real, para que imediatamente nos ofereçam um antidepressivo. Não queremos menstruar nem ter dor de parto, qualquer desentendimento com o chefe acaba com nosso dia, desistimos de um amor no primeiro percalço, por acreditar que merecemos a felicidade eterna. Não podemos nem sentir calor ou frio, para isso há ar-condicionado. Parece que não queremos é viver. Descobri no retiro que muita gente pressente que há demasiadas falsas promessas em sua vida.

Talvez houvesse um caminho alternativo para mim. Provavelmente o mais sensato teria sido desistir quando a dor aumentou – aceitar algo mais difícil que a dor, meus limites. Se minha coluna simbolicamente “quebrou”, talvez seja por causa da minha rigidez, da minha dificuldade de ser mais flexível. Talvez houvesse um aprendizado para mim ao desistir de algo importante, aceitar que precisava parar. Hoje, preciso usar o que aprendi na vipássana para enfrentar uma dor constante, 24 horas por dia, com serenidade.

Neste momento, sinto minha vida mais larga. Cada dia é longo. Tenho dificuldade de me concentrar no que aconteceu ontem, e a próxima semana está longe. Percebo imediatamente quando estou vivendo algo especial, coisas muito simples que antes não perceberia. E descarto os acontecimentos desagradáveis no minuto seguinte. Quando sinto medo ou ansiedade, sei que vai passar. Só essa certeza já reduz os monstros à metade do seu tamanho.

A vida parou de correr. É como se o ano, que passou voando, tivesse pisado fundo no freio. Está tudo quase em câmera lenta. Descobri ontem que tenho preenchido meus cheques com a data do mês anterior. Não tenho idéia do que vai acontecer. E acho ótimo não saber. Sempre achei, mas antes tinha mais medo.

Esta é minha aventura, minha experiência, com meu jeito de olhar. Ela é pessoal, única, intransferível. Tentei ser o mais honesta possível com o que sou, senti e vivi. Tudo o que foi escrito aqui é minha interpretação, não tenho o aval de nenhum mestre da vipássana. Esta reportagem é apenas o relato de uma experiência radical um pouco diferente do que estamos acostumados a entender como radical. Não é um incentivo para que os leitores façam um curso como esse – nem um incentivo para não fazer.

Este é apenas o relato de uma viagem para um lugar bem exótico – meu corpo. Você poderia estar lendo sobre uma circunavegação da Antártica ou a escalada da parede sul do Aconcágua. Mas esta é uma expedição de dez dias, mais de cem horas de olhos fechados, sem sair do lugar e sempre para dentro. Ao avesso de qualquer outra aventura, quanto mais longe, mais perto estava de mim. Neste mundo em que todas as geografias já foram devassadas – e a maioria delas devastada – talvez este seja um desafio mais real.

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Desenvolvendo a Visualização Criativa


Desenvolvendo a Visualização Criativa

Por Valter Cichini Junior

Uma ferramenta muito utilizada e conhecida por todos aqueles que participam, participaram ou conhecem os grupos de meditação é a famosa Visualização Criativa. Hoje essa técnica é tão importante que existem grupos estudando sua eficiência até no auxílio do tratamento ao câncer.
Participando de grupos de meditação há alguns anos, fica muito evidente a dificuldade enfrentada por algumas pessoas que se dispõem a realizar essas técnicas; em geral elas têm grande dificuldade em visualizar as imagens solicitadas pela voz que está conduzindo o trabalho. O que muitos desconhecem é que existe uma técnica bastante simples para desenvolver e aprimorar essa capacidade que todos nós temos.

O primeiro passo é olhar e reter uma imagem. O processo consiste em olhar para um objeto tentando reter o máximo de detalhes pelo período de um minuto, em seguida fechar os olhos e visualizar o objeto com todos os seus detalhes também pelo período de um minuto. Esse processo deve se repetir em ciclos até que se consiga visualizar o objeto em todas as suas nuances.
Passando dessa etapa, o segundo passo é lembrar e reter uma imagem, ou seja, você vai se lembrar de um fato anterior, de cada um dos detalhes que o envolveram. Procure se concentrar nos pormenores do cenário em volta, nas pessoas que estavam ao redor, na expressão facial delas e em toda riqueza de detalhes que conseguir.

No terceiro passo já passa a existir o elemento de criação, o exercício da criatividade que existe dentro de cada um de nós. Vamos usar essa criatividade e inventar uma imagem, colocar nela todos os detalhes possíveis, fixar o cenário, as cores, os objetos e ficar apreciando cada um desses detalhes dentro da imagem como um todo.
Na quarta etapa estaremos incluindo o elemento sensação, vamos imaginar o corpo em bom funcionamento e sentir o que isso nos traz. Imaginemos, por exemplo, uma grande sensação de bem estar e na seqüência vamos sentir o que isso nos proporciona, observemos como nosso corpo reage a essas imaginações, como fica nossa respiração, entre outras coisas. Aqui já estaremos começando a experimentar o que a visualização criativa pode fazer por nós, como nosso corpo responde a esses estímulos.

No último passo da técnica trabalharemos com objetivos e os transformaremos em símbolos; estaremos utilizando o que se conhece como tela mental. Vamos nos imaginar, por exemplo, com saúde ou prosperidade. Que imagem teria a saúde ou a prosperidade para cada um de nós? Note que nesse ponto a imagem é muito subjetiva, vai depender muito da vivência de cada um e de seus valores íntimos. Para um a prosperidade pode significar a realização de diversas viagens, para outro pode ser a aquisição de bens materiais e assim por diante. O importante é que a imagem represente o que se deseja para quem está utilizando a técnica.
Tendo passado pelos cincos passos com sucesso, a visualização criativa deixou de ser aquele terror, aquele bicho de sete cabeças que tanto incomodava, transformando-se em um aliado poderosíssimo da nossa caminhada. Podemos usar esse aliado no auxílio à cura de doenças, no trabalho da auto-estima, na busca de tranqüilidade, de aumento de concentração, na superação de vícios - entre muitas outras coisas - nos tornando assim pessoas melhores, mais realizadas e conseqüentemente mais felizes.

Atividade Física

Por Antônio Azevedo

Digamos, por exemplo uma pessoa que está começando uma atividade física, visando entrar em melhor forma.
Ela pode, por exemplo, adicionar ao processo normal de exercício físico um pequeno exercício de visualização, com o objetivo de potencializar o máximo possível o trabalho inconsciente de desenvolvimento muscular. Fazendo isso ela pode economizar em anabolizantes...
De manha cedo, ainda na cama, ao acordar, ainda naquele estado de torpor (estado hipnopômpico) entre o dormir e o totalmente acordado, feche de novo os olhos e respire fundo algumas vezes. Imagine o sangue percorrendo o corpo e oxigenando todos os tecidos e células. Imagine - visualizando e sentindo a sinestesia - as células recebendo um impulso de estímulo e desenvolvimento, através dos filamentos neuroelétricos e conexões neuroquímicas do corpo, desde o cerebelo (localizado na região posterior do crânio, um pouco acima da nuca), pela medula e se espalhando, tal qual uma árvore de Natal que vai se iluminando, até atingir todas as partes do corpo.

Não coloque este impulso como uma ordem na terceira pessoa, tal como "melhorem!" ou "fiquem fortes!". Ao invés, imagine, escute e sinta tal qual fosse uma onda de força e energia, um agradável choque elétrico, uma iluminação como pequeninas lâmpadas de Natal, uma subvocalização auditiva como "estou indo!", "estou chegando lá!" no gerúndio e na primeira pessoa.
Fique praticando esta imaginação (visualização criativa) por alguns minutos. Não torne o tempo exagerado, o exercício mental não precisa ser chato. Vale mais a pena dois minutos divertidos do que vinte minutos entediantes.

Ao chegar na academia de ginástica (ou no calçadão da praia, ou na quadra, parque ou mesmo no seu próprio quarto, em frente ao espelho), antes de fazer um exercício específico, visualize-se internamente fazendo o exercício e sentindo os benefícios metabólicos dele: o coração, os pulmões funcionando melhor, a corrente sanguínea fluindo mais, as reservas adiposas se derretendo tal como manteiga em chapa quente e se transformando em energia real, disponível imediatamente. Esta imaginação pode ser bem rápida, e direcionada para a musculatura específica que será exercitada.
Por último, ao acabar a série de exercícios, ao fazer o relaxamento e alongamento final, dedique-se a fazer uma ponte-ao-futuro: imagine-se como se sentirá no novo corpo que está esculpindo, em uma data específica no futuro.
O importante é ter uma reação associada, isto é, sentindo-se DENTRO do corpo, e não se percebendo de fora, como se visse a si mesmo à distância.
Ao fazer isso, dia a dia, comparar a diferença da sensação interna com a sensação interna da imagem projetada no futuro e comparar estas com a do dia anterior, para sentir uma efetiva, se bem que sutil, melhoria.

Visualize seu caminho para o sucesso

Por Antônio Azevedo

Ao que parece, hoje em dia muitos livros vêm com um capítulo obrigatório dedicado à visualização. O assunto já não está circunscrito à area esotérica. "Visualize o bolo crescendo... veja-o sair perfeito do forno", diz um livro de receitas que ganhei um dia desses. (O mais acabado "exemplo de psicologia", acredito.).
O presente texto sobre visualização é diferente: ao invés de simplesmente abordar os benefícios da visualização, recomendando-a, vou explicar por que ela não funciona para muita gente. Você vai ter a verdadeira história, inclusive com as falhas da visualização.
No entanto, como ela é a "quarta mola" da produtividade, conforme escrevi antes, deve saber por que a recomendo, com seus defeitos e tudo. Existem, afinal de contas, certas condições sob as quais a visualização pode ser bastante eficaz. Você vai aprender que condições são estas e como pode fazê-las melhorar sua produtividade todos os dias.

Não tire conclusões precipitadas de que a visualização não passa de teoria metafísica, sem aplicação na prática, e que não traz qualquer benefício. Pode parecer assim no início, quando estivermos comentando certos aspectos engraçados que ela tem, mas tenha a certeza de que se não tivesse nenhum valor prático e realista, não teria sido comentada neste livro. Com o desenvolver do capítulo, entenderá como funciona e como fazê-la trabalhar para você.

O que a Visualização pode fazer por você

A visualização afeta sua produtividade de várias maneiras: pode lhe proporcionar a orientação capaz de mantê-lo na trajetória de sua carreira e vida pessoal, pode reforçar a autoconfiança e fortalecer sua fé em si mesmo e em suas habilidades, pode aguçar sua perícia e elevar o nível de experiência. A visualização ajuda nas suas realizações e melhora seu desempenho.
Tão logo esteja visualizando melhor, começa imediatamente a trabalhar para você. As pequenas coisas que quer realizar a cada dia no trabalho e em casa podem acontecer com maior facilidade e freqüência, e as mais grandiosas, como seus sonhos, por exemplo, também podem vir a acontecer com maior facilidade e freqüência, emboram demorem um pouco mais. Em suma, ela proporciona incontáveis benefícios e não tem nenhuma contra-indicação.

O Conceito da Visualização

Você pode não estar bem familiarizado com o conceito da visualização, mas, ainda que esteja, vamos repassá-lo como base para nossos comentários.
Visualizando algo, pensando e vendo na imaginação esta coisa, você consegue trazer para a realidade tudo o que estiver objetivando. É este o conceito. Um exemplo comum dos proponentes da visualização é "criar uma vaga para o carro", visualizando uma área vazia no estacionamento lotado. Com certeza, quando você se aproximar da área, alguém sai da vaga e é só você ocupá-la, como se já estivesse tudo num roteiro. É esta a idéia por trás da visualização; você está "escrevendo o roteiro", está imaginando algo com antecedência para mais tarde, simplesmente, ver tudo sendo representado na vida real.
Nós vamos examiná-la por outro ângulo. Tudo o que existe hoje no mundo feito pelo homem não foi criado por alguém? Sua casa, por exemplo. Pessoas contruíram-na físicamente com serrotes, martelos, pregos etc, utilizaram vários materiais, como madeira, carros, tijolos e plástico. EStes materiais foram todos fabricados. Sua casa foi criada por algumas pessoas que fizeram as partes e outras que as juntaram.
Antes, porém, que os operários juntassem todas as partes, alguém desenhou a planta, certo? A construção de fato não começou antes de existir a planta. Que dizer que alguém, muito provavelmente um arquiteto, criou mentalmente sua casa e preservou tal criação sob a forma de planta antes do construtor criá-la na realidade.
Observe qualquer coisa que existe na sua vida. Seu carro, televisor, camisa, jornal ou seu jantar. Antes de alguém criar tudo isso na realidade, criou-as mentalmente. As palavras também funcionam assim. Antes de qualquer filosofia, crença ou sentimento se estabelecer, foi preciso alguém sonhar. Alguém em algum lugar criou a coisa mentalmente para só depois se transformar em realidade. Tudo o que existe atualmente já foi uma idéia. Você tem, portanto, a teoria de que "tudo é criado duas vezes", primeiramente é criado em pensamento e, depois, na realidade.
Com isto, voltamos à visualização. Quando visualiza mentalmente algo que, no momento, não faz parte da sua realidade, você ativa as forças necessárias para transformá-lo em real. Seu pensamento ou visão é a semente, que cresce e torna-se uma planta, que vive e respira. Assim também acontece com a sua visão. Primeiro o pensamento, depois a realidade.
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Máxima 46: Tudo o que existe, já foi apenas uma idéia na mente de alguém.
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Nada vem a ser ou é criado em forma material, sem ter antes existido como idéia. Visualizar coisas que não existem, materiais ou não, é, pois, de suma importância para fazê-las acontecer na realidade. Noutras palavras, a visualização ajuda-o a realizar; ela aumenta a produtividade.

Visualização funciona mesmo?

Se a visualização auxilia a realização de coisas e não tem nenhuma contra-indicação, por que então as pessoas não visualizam o tempo todo? Ora, muita gente que a experimentou diz que não funciona. Visualizam algo novo a se materializar nas suas vidas, mas a coisa não acontece. Pode isto acontecer? Você pode visualizar algo como tudo correndo bem na reunião de vendas de amanhã, uma promoção a gerente distrital ou a capataz, um Lexus novo e pago na garagem, e nada disso acontecer? A visualização pode desapontá-lo?
Mas, afinal, a visualização funciona ou não? Seguem dois argumentos defendidos por quem diz que ela não passa de um truque de psicologia pop, que não tem real poder de afetar as coisas. Para avaliar a validade de suas alegações, vejamos o que eles pensam.

Visualize a bola sendo colocada de primeira em 18 buracos
Há alguns anos, alguém, num campo de golfe, contou a alguém mais o segredo de como aumentou a sua produtividade no golfe: visualizar a bola indo para onde você quer que ela vá. Os jogadores de golfe, que no mais são pessoas inteligentes, que socialmente ocupam cargos de responsabilidade, geralmente se transformam em pessoas altamente volúveis e irracionais quando se lhes apresenta a oportunidade de adotar algum truque novo, capaz de aumentar-lhes o rendimento no jogo. Segundo consta, adotam de tudo, até as coisas mais desajeitadas ou menos práticas que, segundo eles, possam poupar-lhes uma ou duas tacadas. Não demorou muito para a visualização tornar-se procedimento de rotina até entre os que nem levam muito a sério o esporte. Aproxime-se da bola, ponha-se em posição, visualize e dê a tacada.

Por acaso toda esta visualização produziu uma nação de melhores jogadores de golfe? A média de tentativas diminuiu notavelmente nestes últimos anos? Os clubes de golfe precisaram baixar seus padrões para reagir à infiltração da visualização?
Para os céticos, a única coisa que a visualização fez, ao que se saiba, foi retardar os jogos, pois em vez de ir direto à bola e dar a tacada, todo mundo vai e fica o tempo que bem entende visualizando, enquanto os demais esperam.
Se a visualização funcionasse, com 18 tacadas você colocaria a bola em 18 buracos, a não ser que de vez em quando a visualizasse indo parar perto do marco. E como explicar uma péssima tacada quando o que visualizou foi outra coisa? Quem sabe enquanto você visualizava a bola indo direto para o buraco, os outros três do seu grupo a viam indo parar dentro do lago? Talvez as visualizações antagônicas acabem pesando a favor da maioria; ou talvez simplesmente não funcione.
E o Lexus pago?

Um certo dia, Betsy telefonou-me toda eufórica. "Qualquer dia desses eu apareço por aí para lhe mostrar meu Lexus novinho!" exclamou. "Então você está de carro novo? Que beleza!", conclui.
"Bem", prosseguiu ela, "eu ainda não comprei. Mas ele vai estar aqui no dia primeiro de novembro." "Então você fez uma encomenda especial?". "Não foi bem isso", explicou ela. "Eu ainda não comprei o carro. Nem sei direito se vou realmente comprá-lo, só sei que no dia primeiro de novembro vou ter o meu Lexus novinho e, o que é melhor ainda, totalmente pago!". (Se você for visualizar um carro novo, visualize-o já pago!).
Betsy não conseguia conter o entusiasmo, havia lido um desses capítulos sobre visualização em algum livro e aderiu na mesma hora. "Visualizando um Lexus novo e pago na minha garagem eu vou materializá-lo!", explicou ela. E tome de visualizar! Nos três meses e meio que se seguiram (foi em meados de julho que tudo começou), ela visualizou com toda a energia. Conforme o livro sugeria, recortou fotos do carro e colou no espelho do banheiro e na porta da geladeira, olhou muito para as fotos, inculcando-as na mente. Ela também fixou um prazo para sua visão tornar-se realidade: 1 de novembro, três meses e meio pareciam tempo suficiente para a mágica da visualização agir.

Ela também agiu. Afinal de contas, visualização não é só sonhar, desejar e esperar. Incutir a imagem na mente é só uma parte, a outra parte-chave é agir no sentido de realizar a visão. Todos os dias é preciso que você faça alguma coisa para a visão tomar forma, e foi exatamente isto que ela fez. Mais de uma vez foi até a revendedora e "ligou-se" no modelo de sua preferência, olhou, tocou, escutou, cheirou, sentou, dirigiu, falou com donos de Lexus e disse para eles que também teria um.

Acreditar também é uma parte-chave da visualização. Betsy aprendeu que não basta visualizar e agir, tem que acreditar, de verdade, de todo o coração, que a visão não só é possível e provável, mas que ela é inquestionavelmente verdadeira. Não pode haver dúvida na sua mente, para a visão tornar-se realidade, você precisa acreditar que ela já é realidade, embora ainda não se tenha materializado.
Betsy acreditou. Chegou até a dizer para todo o mundo que já tinha um Lexus novo e pago, como se já tivesse mesmo. Não tenho a menor dúvida de que ela acreditou, principalmente quando a vi sair de um shopping e, inconscientemente, enquanto conversava comigo, dirigir-se por engano para um Lexus no estacionamento, pensando que era o carro dela.

Não se preocupe com como é que uma visão vai se tornar realidade. Betsy sabia muito bem que não podia arcar nem mesmo com a entrada, que dirá com o restante do pagamento. Mas isso não tinha importância. Se fizer tudo o que tem de ser feito, ou seja: visualizar com intensidade emocional pelo menos duas vezes por dia, agir sempre e sinceramente acreditar que a visão existe, o "como" é coisa que vai cuidar de si mesma. Algo, ou uma série de "algos" que concretize a visão vai acontecer. Quem sabe ela ganharia algum concurso (participar deles era uma das providências que ela estava tomando) ou na loteria estadual? Talvez morresse algum parente distante e lhe deixasse um Lexus em testamento. Quem sabe ela encontrasse um cavalheiro simpático e gentil que lhe desse um Lexus como presente de noivado? Ela poderia também acordar algum dia e encontrar um na garagem sem qualquer explicação de como ele foi parar lá. Não ria! A maneira poderia ser qualquer uma em mil possibilidades, nenhuma das quais, enfim, importava.

Finalmente, veio o dia 1 de novembro, depois o dia 2, 3 e 4. Lá para o dia 10 de novembro, liguei para Betsy para saber das novidades. "Eu ainda não estou com o carro, mas sei que ele vai chegar em breve", disse ela com convicção, ainda que notavelmente menos intensa do que antes.
Vieram então 1 de dezembro, 1 de janeiro e por fim 10 de novembro do ano seguinte. Com dois anos e meio, desde que ela começara a visualizar um Lexus pago, nada de Lexus pago ainda.
Visualizar funciona? A conclusão dela é bem clara. "A visualização é uma arapuca!". Uma idéia estúpida para fazer gente crédula como eu cair numa conversa fiada. É mais fácil ter um Lexus se eu mesma contruí-lo, porque, com certeza, eu não vou conseguir nada com visualização", declarou ela.

Por que a Visualização não funciona para alguns

A razão pela qual certas pessoas não conseguem fazer a visualização funcionar para elas é que querem que se façam coisas impossíveis. A visualização não é uma fada pronta para satisfazer todas as suas vontades, não é uma varinha de condão que produz automaticamente o que você pedir. Ela só é uma técnica mental simples, que ajdua a sua produtividade, e o que pode fazer com grande impacto se for bem utilizada.
Muitas coisas a visualização não pode fazer. As pessoas que dão testemunhos de maus resultados parecem não ter consciência das limitações. Aqui estão quatro das limitações da visualização: compreendê-las vai preparar para saber o que ela pode fazer, e isto virá em seguida.
- A visualização não altera as leis conhecidas da física. Você está num engarrafamento medonho, visualiza seu carro levitando e indo por cima de todos, como o de George Jetson. A visualização vai se transformar em realidade? Sinto muito.

É claro, há um argumento em favor da validade de uma visualização desse tipo. Se, afinal de contas, os irmão Wright não tivessem imaginado a si mesmos voando e acreditado que poderiam fazê-lo, quando todo o mundo considerava impossível voar, não teriam inventado o avião. (*) Se você visualizar um carro voando pelo ar e dedicar a sua vida a transformar esta visão em realidade, pode muito bem inventar um carro voador. Mas, enquanto você ou qualquer outra pessoa não fizer exatamente isto, seu carro não vai escapar de nenhum engarrafamento, pode visualizar com a força que quiser.
(*) Nota do tradutor: A Europa Continental em peso reconhece o brasileiro Alberto Santos Dumont como o inventor do avião, mas não os EUA. Para eles cabe aos irmãos Wright o alegado privilégio.
Você também não vai conseguir saltar com um pulo só prédios muito altos, parar uma locomotiva ou fazer balas de metralhadora ricochetearem em seu corpo. Talvez algum dia alguém invente uma forma de fazer tudo isto. Este alguém pode ser você ou não, mas enquanto isto não acontecer, não é com visualização que poderá conseguir hoje mesmo essas coisas.

- A visualização não muda as possibilidades matemáticas. Digamos que haja 500 pessoas na sala, ou melhor, 501, contando comigo, que estou em pé diante de você, e das outras 499 pessoas sentadas no auditório. Anuncio que há uma etiqueta especial colada sob uma das cadeiras, o que significa que seu ocupante ganhou um livro (o que realmente faço em meus seminários). Quais são suas chances de ganhar o livro?
Uma em 500, logicamente. Mas se você estiver visualizando-se intensamente como o ganhador? E se imaginar-se vindo à frente para receber o livro? A visualização aumenta suas chances de ganhar? Não. Também não ocorre de alguém mais estar visualizando-se como ganhador e tal visualização reduzir suas chances a zero. A visualização não altera as possibilidades.

Pense nisto desta maneira. Quando a loteria estadual faz um determinado sorteio, ela sabe quais as chances de alguém ganhar. Chega até a imprimir as probabilidades no próprio bilhete para que o apostador também fique sabendo. A loteria leva em conta a visualização quando divulga as chances? O bilhete diz: "As chances são de 1 para 7 milhões, a não ser que você esteja visualizando". Nesse caso, você garantidamente vai ganhar e todos os demais compradores de bilhetes serão perdedores certos? Claro que não. A visualização não afeta as probabilidades.
Não é a mesma coisa que dizer que com ou sem visualização você não pode melhorar as chances de sucesso. Você poderia comprar dois bilhetes, dobrando assim suas chances de ganhar; assim mesmo as probabilidades continuam as mesmas: uma para sete milhões, mas comprando dois bilhetes você acrescentou suas chances para duas para 7 milhões.

É por isso que os jogadores de golfe não conseguem ir marcando logo uma sucessão de pontos colocando a bola no buraco logo na primeira tentativa; as chances de colocação com uma só tacada são bem remotas e consegui-lo em sucessão são microscópicamente pequenas. A visualização não altera estas probabilidades.
- A visualização não substitui o esforço. Há que ache que visualização e esforço sejam inversamente proporcionais. Se passarem boa parte do tempo visualizando, poderiam passar menos tempo agindo, raciocinam. Elas percebem o fenômeno como um atalho interessante para o sucesso. São do tipo que conseguem imaginar Ed McMahon tocando sua campainha com um cheque de 10 milhões de dólares na mão e sentarem-se o dia inteiro esperando que isto aconteça. Claro que não acontece. Por acaso é coincidência o fato de que cada pessoa que atribui seu sucesso à visualização também dar igual crédito a um tremendo esforço? Já conversei com centenas de pessoas que fazem sucesso em todos os setores, no mundo inteiro, e todas têm pelo menos uma coisa em comum, repetem sempre as mesmas palavras: "Não é fácil".

- A visualização não dita o quando. A visualização não oferece resposta a nenhum "quando" (se você já conseguiu se curar de alguma doença, nem vai fazer esse tipo de pergunta). Foi aí que Betsy errou. ela marcou um prazo para concretizar seu Lexus. Alguns proponentes da visualização recomendam que use prazos para pressionar seu subconsciente a agir mais rápido. Eles não compreendem a Máxima 29. São as grandes forças do universo que ditam quando algo vai acontecer; você não pode controlá-las.

Algumas visões se materializam rapidamente, outras demoram um pouco mais. Ainda cursando o ginasial, Emmitt Smith assistiu ao Super Bowl XXI, em janeiro de 1987. Ele passou, a partir de então, a visualizar-se jogando no Super Bowl e chegou a espalhar que ainda participaria. Seis anos depois, lá estava ele jogando no Super Bowl XXVII, pelo Dallas Cowboys. A visão tornou-se realidade, mas levou seis anos. Não é como se duas semanas depois que começou a visualizar ele fosse misteriosamente retirado da escola e convocado para o Super Bowl. Certas visões levam tempo para materializar-se.
Se Betsy continuasse a visualizar o seu Lexus pago na garagem, ele acabaria lá, sem dúvida. Fixar, porém, um prazo, ditar quando ele deveria estar lá, é contraprodutivo.
Como funciona a Visualização
Apesar de tudo, a visualização realmente funciona. "Como ela funciona?", você pergunta.

Vamos descobrir o que dá potência à visualização.

A visualização é um bem fundado princípio científico que realmente pode melhorar o seu desempenho, fazer realizações acontecerem, e suas expectativas se materializarem. Na verdade, ela não é tão esotérica, nem misteriosa quanto parece. A visualização é tão somente um método de programar o subconsciente, para que este aja conforme a cena gravada, dirigindo os seus pensamentos, palavras e ações de acordo com o seu objetivo. É assim que ela funciona:

- A visualização sensibiliza o seu subconsciente. A visualização sensibiliza o seu subconsciente para detectar tudo o que possa ajudar a transformar sua visão em realidade. Lembre-se: seu subconsciente está recebendo continuamente, pelos cinco sentidos, uma quantidade infinita de informações, e ele precisa classificar tudo para definir o que é e o que não é relevante. Quando uma visão forte está embutida em sua mente, tudo o que pode dar apoio àquela visão torna-se relevante e é aproveitada. Sem a visão instalada, seu subconsciente não teria sido alertado para reconhecer algo como relevante, e nem ordenar suas ações para tirar proveito da mesma.

À guisa de ilustração, quantos carros Taurus de cor cinza você viu na estrada na semana que passou? Talvez não faça a mínima idéia. Você não prestou atenção porque não esperava a pergunta. Se, porém, eu lhe prometesse a recompensa de 100 dólares em dinheiro para contar os Tauros de cor cinza que visse por acaso na próxima semana, o que aconteceria? Consciente e deliberadamente, você observaria. Mais que provavelmente, porém, sua mente divagaria, a maior parte do tempo que passasse dirigindo, você estaria pensando em qualquer outra coisa, menos em Taurus cinza. Não obstante, assim que avistasse um deles, seu subconsciente interpretaria a visão como relevante e alertaria sua mente consciente. "Mais um", diria você a si mesmo, incluindo-o na contagem.

Vá em frente e faça a experiência. Compre um Taurus de cor cinza e veja quantos Taurus de cor cinza vai passar a perceber na estrada. Depois de comprar o seu, você vai ver muito mais deles. Por que isto? Ou você é tão famoso e considerado na comunidade, que muita gente vai sentir-se compelido a competir com você (possível), ou sua compra sensibilizou o seu subconsciente a observar estes carros agora (provável).
Por que as emissoras de rádio tocam demais aquela canção que você detesta? É só ligar o rádio que lá vem ela. Na verdade, ela não está sendo mais tocada do que as outras. Mas, por causa da sua ojeriza, seu subconsciente ficou sensibilizado a ela, dando a impressão de que é muito mais tocada do que as outras, às quais seu subconsciente não está sensibilizado.

Quando sua mente subconsciente está programada com uma visão, deslinda qualquer quantidade relevante de informações dentre as milhões de informações que recebe diariamente e sobre as quais atua. Com o passar do tempo, suas palavras e ações modelam o seu futuro e as coisas que lhe acontecem alinham-se com sua visão.
Ao montar um quebra-cabeça, você precisa olhar constantemente para a figura completa na caixa para saber onde vai encaixar uma das peças, certo? Ao visualizar, está fornecendo a figura completa para o seu subconsciente, está mandando- achar todas as peças relevantes que, depois de montadas, correspondem ao quadro visualizado. O quebra-cabeça é montado, formando, no final, uma figura idêntica àquela para a qual você ficou olhando o tempo todo.

- A visualização reforça a convicção. Se você não acredita que algo vai acontecer, está aumentando grandemente as chances de aquilo não acontecer mesmo. Para fazer a visualização funcionar, você precisa acreditar piamente que sua visão vai tornar-se realidade ou, a mais forte convicção possível: que sua visão já é realidade. Como então estabelecer, fortalecer e conservar convicções? Visualizando.
É como numa cadeia alimentar. A convicção alimenta a visão, que por sua vez alimenta a convicção. Você não tem dificuldade para acreditar em algo que existiu no passado, tem? Digamos que tenha um amigo especial que já não está mais presente em sua vida; uma pessoa com quem trabalhou há muitos anos, em outro emprego. Você acredita que esta pessoa existiu porque ele ou ela já esteve com você e agora é uma forte lembrança.

Imagine agora outro amigo existindo em sua vida, alguém igualmente especial, mas que você ainda não encontrou. Uma vez que ainda não o encontrou, ele ou ela não passa de uma idéia, uma imagem criada pela sua mente. Agora, compare o nível de credibilidade da existência de cada pessoa, a da memória e a da imaginação. Em qual das duas é mais fácil acreditar? Qual das fontes, memória ou imaginação, produz nível mais forte de convicção? Se for como a maioria das pessoas, você vai achar prontamente que a memória é muito mais acreditável; quase sempre acredita mais em uma recordação do que numa coisa imaginada.
Você pode, contudo, tornar uma visão tão forte como uma lembrança. Alguma coisa acontece na sua vida e você lembra, é como se cria uma recordação. Primeiramente o fato, depois a memória. com a visualização inverte-se a ordem. Uma visão, fortemente implantada no armazenamento cerebral, é uma lembrança invertida. Visualizando, primeiramente você cria a memória, e o fato acontece mais tarde: a visão aloja-se na mesma parte do seu cérebro onde alojou-se uma lembrança, e pode ter o mesmo nível de credibilidade.
- A visualização cria confiança. Vai desempenhar melhor se tive confiança na sua capacidade de ter sucesso. E a maneira de adquirir confiança é através da experiência. As duas maneiras de adquirir experiência são agir e visualizar-se agindo. Em outras palavras, suas visões são pseudoexperiências.

Os pilotos de avião treinam em simuladores de vôo; eles podem adquirir nestes a mesma experiência que em vôos reais, sem os perigos destes. Provavelmente cometerão menos erros em vôos reais se adquirirem experiência prévia em simulados. A visualização funciona da mesma maneira: quando visualiza a si próprio fazendo algo, está simulando mentalmente a realidade. Da mesma forma que o piloto no simulador, você está adquirindo experiência; ela cria confiança, faz com que se desempenhe melhor.

Com os computadores de "realidade virtual", você agora já pode colocar um capacete e entrar num mundo completamente diferente. A realidade virtual está sendo aplicada para reabilitar pessoas que sofreram lesões cerebrais, pois se simulam habilidades elas estão melhor habilitadas para fazer o mesmo na vida real. Você pode usar o seu cérebro exatamente da mesma maneira que um programa de computador de realidade virtual. Pode programar o seu subconsciente da maneira que quiser, visualizando experiências e, ao fazê-lo, está adquirindo valiosa experiência e confiança, além de melhorar seu desempenho na realidade.
Como exatamente você melhora o seu desempenho? Desenvolver a confiança é só uma parte, porém há mais. A visualização lhe oferece um roteiro a seguir. É como os atores no palco, que representam de acordo com o texto. E se não houvesse um roteiro? Eles ficariam ali sem saber o que dizer ou fazer. Quando você visualiza alguma coisa antecipadamente, está criando o roteiro. Na hora de encená-lo, você fala e se movimenta dirigidamente, com confiança e sem hesitação. Depois que experimentar, vai achar muito surpreendente.
- A visualização complementa o seu ser. É verdade que você é a soma de todas as suas experiências passadas? Muita gente acha que sim, porque parece lógico. No entanto isto é falso. Suas experiências passadas constituem apenas metade do seu ser.

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Máxima 47:
Você é a soma de suas experiências passadas mais as suas visões de futuro.
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A verdade é que você é a soma de suas experiências passadas mais as suas visões do futuro. E suas visões do futuro podem inclusive ser o fator dominante nessa equação.
Quando está dirigindo, olha para a frente, pelo pára-brisa, observando a estrada e o trânsito, e está esperando que certas coisas aconteçam no percurso. Espera estar mais à frente daqui a cinco segundos, ou décimos de segundo; espera que os outros carros permaneçam do lado da pista onde estão, parem na hora de parar, e viajem a velocidades razoáveis; espera que os sinais mudem de vermelho para verde, e de verde para amarelo. Tudo o que vocêw faz (acelerar, frear, virar etc) baseia-se em grande parte no que você vê adiante.
Dá para imaginar-se dirigindo com a atenção focalizada na janela traseira, pelo retrovisor, e não no pára-brisa? Pergunta boba, eu sei, mas muita gente por aí passa a vida olhando para trás. São pessoas de visão retrospectiva, que imaginam um futuro correspondente ao passado. Em outras palavras, para estes não há diferença entre o futuro e o passado e não é de se admirar que entra dia e sai dia, entram anos e saem anos, eles estejam vivendo a mesmíssima vida e nada muda, porque suas visões não fazem as coisas mudarem.
Por outro lado, as pessoas que visualizam com êxito optam por visões bastante diferentes do seu passado. É assim que prosperam. É assim que realizam coisas e se tornam pessoas cada vez mais produtivas. Quem são eles hoje e todos os dias, e em quem se metamorfoseiam lentamente, é a soma de suas experiências passadas mais suas visões do futuro.

Larry passou a maior parte de sua vida sem dinheiro. Tem um cargo de responsabilidade e ganha um salário decente mas, ao que parece, está sempre sem dinheiro. Por ter sido sempre assim, ele não espera ser nada mais do que um duro. Suas visões de futuro espelham seu passado. Certa vez ele herdou 220 mil dólares, uma quantia respeitável que, se fosse bem investida poderia ter-lhe rendido muito mais. Mas a visão de Larry, inculcada no subconsciente, deu rumo diferente ao seu comportamento e dentro de um ano ele havia estourado todo o dinheiro e continuou fiel à sua visão de um duro.
Melissa era tão dura quanto Larry. Aliás, seu caso era mais grave ainda do que não ter dinheiro: devia 48 mil dólares. Mas esperava acabar ficando abastada, imaginava-se vivendo em riqueza todos os dias. Sua visão do futuro era muito diferente de seu passado ou de seu presente. Com o passar dos anos, Melissa livrou-se das dívidas, economizou e investiu. Três anos atrás ela vendeu suas cotas numa cadeia de lojas de roupas infantis por 1,2 milhão.
Se não está visualizando um futuro diferente, não está provendo aquela parte da equação com o que é preciso para criá-lo no presente e no futuro. Quanto a isto, seu cérebro optará por visões em posição de repouso para preencher aquela parte da equação. Estas visões vão basear-se apenas no seu passado, já que não alimentou o cérebro com dados de futuro. Dê ao seu cérebro todas as coisas boas, sólidas, fortes, diferentes e estimulantes que ele precisa, para criar o seu ser. Com o passar do tempo, você se tornará a pessoa das suas visões.

A Visão da Carreira

Vamos começar aplicando o que sabemos sobre visualização ao seu desempenho. Primeiramente, veremos como pode usá-la para realizar algumas das suas principais expectativas de carreira.
Você está na melhor posição possível de sua carreira? Se não está, pode usar a visualização para ajudá-lo a progredir na direção desejada. A maioria das pessoas acha que os ramos de espetáculos e esportes são dois dos mais difíceis para se chegar ao sucesso, com chances microscópicas de se conseguir. Seguem alguns exemplos de pessoas que, através de fortes visões de carreira, transformaram-se em pessoas de desempenho extraordinário com prósperas carreiras em ambos os setores.
Richard Marx via-se como um músico e cantor de sucesso desde menino e foi a única coisa na vida que ele já se imaginou fazendo. Em sua mente nunca houve qualquer dúvida quanto a chegar lá. Quando você não tem dúvidas sobre seu destino, fazer qualquer coisa que for necessária para ajudá-lo a acontecer não parece um empreendimento tão titânico. Com 18 anos de idade, Richard Marx deixou a casa dos pais, em Chicago, e foi para Los Angeles, onde arranjou emprego como músico de estúdio, fazendo acompanhamento para Lionel Ritchie, entre vários outros. Depois, abriu o seu próprio negócio no ramo e gravou um compacto simples que fez sucesso em seguida álbuns que também fizeram sucesso. Tudo isso estaria de acordo com sua visão, mas não digo que tenha sido nem rápido nem fácil tudo isso acontecer. Custou-lhe muito trabalho. Mas isso é parte da visualização.
Com Bill Cosby aconteceu a mesma coisa. Ainda jovem começou a visualizar-se como um comediante de sucesso. Na época ainda não havia humoristas negros bem-sucedidos que lhe servissem de modelo, sua visão era pioneira. Muita gente, inclusive seus pais, desencorajaram Bill a dedicar-se a um empreendimento visto como de alto risco e com chances mínimas de sucesso. Mas, quando a visão é forte e segura, não parece tão arriscada para o visionário.

Um garoto criado em Minnesota, Jack Morris assistia aos Minnesota Twins pela televisão; e o que assistia era um pouco diferente do que a maioria dos outros meninos via. Jack via-se jogando no Twins, . Em sua mente ele participava do time, era o starting pitcher, ele estava lá, na televisão. Com o passar dos anos, ele fez de tudo para concretizar seu sonho. No primeiro jogo do campeonato mundial de 1991, adivinhe quem foi o starting pitcher do Minnesota Twins, transmitido pela televisão para o mundo inteiro? Essa foi fácil! Jack Morris visualizou isto durante anos, até que realmente aconteceu.
Qualquer um de nós pode fazer o mesmo? Visualizar só não garante o sucesso, é óbvio, mas com toda a certeza ajuda. A idéia é você ver-se na carreira e na posição pretendida. Em um seminário do qual participei faz alguns anos, subi ao palco durante o intervalo do almoço, quando não havia mais ninguém na sala. De pé, no lugar do conferencista, olhei para o auditório. Visualizei-me falando para todas aquelas pessoas que tinham vindo ao seminário. Um ano mais tarde estava eu falando para umas 50 pessoas. Em três anos eu falava para centenas, exatamente conforme visualizara.

Agora chegou a sua vez. Pense no que gostaria de estar fazendo e na posição que gostaria de ocupar e crie uma visão de carreira e repasse-a mentalmente todos os dias. Lembre-se: você também tem que agir para sua visão de carreira dar certo. O ato de visualizar sensibiliza o seu subconsciente, reforça a sua convicção, fortalece sua confiança e complementa o seu ser. Tudo isso facilita bastante o agir.
A Visão do Desempenho Diário
A visualização tem o poder de melhorar o seu desempenho todos os dias, tanto no

trabalho como em casa. Você pode melhorar seu desempenho e sua produtividade em relação a qualquer evento ou tarefa, visualizando-a com antecedência. As visões de desempenho diário são sensíveis ao tempo, ou seja, elas referem-se a algum evento ou tarefa que vai ocorrer em um dado momento específico e sabido, ao contrário das visualizações de carreira, que se materializam em momento futuro indefinido.
Pessoalmente uso e abuso das visões de desempenho diário. Por exemplo, antes de encontrar-me com um cliente, visualizo alguns detalhes do encontro: vejo-me de pé, falando e escrevendo em um quadro-negro, vejo os outros sentados à mesa, olhando para mim, e os clientes felizes, aceitando minhas recomendações. Venho fazendo isto rotineiramente, há anos, antes de cada reunião que participo e, com raras exceções, as reuniões de verdade acabam saindo exatamente conforme visualizadas.
Tome, por exemplo, alguma coisa que sabe que vai acontecer na próxima semana, e visualize. Veja-se desempenhando; veja-se em muito boa forma, fazendo tudo com precisão e fineza; pode até visualizar fatos comuns, de rotina. O que vai fazer no trabalho amanhã? Na véspera, visualize-se fazendo isto. Veja-se fazendo as coisas com detalhes. Visualize a maneira como vai sentar-se e ficar de pé, como movimentar-se, o que dizer e também as suas expressões faciais. Visualize os outros concordando, cooperando e dando assistência.
Algumas visões podem levar de 10 a 15 minutos, ou mais, dependendo de se você está decidindo sobre como proceder. Os fatos mais comuns e rotineiros, no entanto, podem ser visualizados em cerca de trinta segundos a um minuto. Antes de entrar naquela sala de reuniões, dar aquele telefonema importante, encontrar-se com um novo cliente, ou sentar-se em seu local de trabalho para iniciar outro projeto, tire um minuto e visualize a coisa acontecendo como gostaria que acontecesse. Fazendo assim, estará escrevendo o roteiro para o seu subconsciente seguir quando mais tarde ele estiver conduzindo seu procedimento durante o evento real.

Vai ficar surpreso com a rapidez e o impacto com que as visões de desempenho diário podem afetar seu desempenho e sua produtividade global. Em vez de continuar a falar sobre as maravilhas da visualização, gostaria que as descobrisse por si mesmo. Depois de completar este capítulo, vá em frente e visualize alguma coisa que vai acontecer amanhã. Se não for um fato rotineiro, visualize-o uma vez na véspera e torne a visualizá-lo pela manhã. Amanhã à noite, você vai agradecer o que a visualização fez por você!

A Visualização funciona na média
Há mais alguns ângulos da visualização que devemos comentar antes de pô-la em prática. O primeiro tem a ver com a questão de credibilidade. Você pode confiar nela para fazer as coisas acontecerem da maneira como as visualizou?
Vamos responder com um exemplo. Você é um profissional de vendas a caminho de um encontro com um possível cliente. Antes do enconro, tira um minuto para fechar os olhos e visualizar como vai ser. Imagina um cliente bem-humorado, e você na melhor forma e ele assinando o contrato. A visão lhe alegra e dá segurança nos seus atos. Sua visão fará a venda acontecer?
Sim e não. Visualizar um grande encontro lhe dará todas as vantagens: um roteiro para o seu subconsciente seguir enquanto guia suas ações durante o encontro de verdade, uma forte certeza do resultado e um alto nível de confiança. Portanto, suas visões estão efetivamente fazendo o que é para fazer. Mas se você não estiver vendendo uma vacina garantida contra o câncer ou algum produto rejuvenescedor que seja realmente tiro e queda, ele poderá dizer um não. Ou até mesmo "de jeito nenhum". Ele também pode faltar e o encontro acabar nem sequer acontecendo. Coisas assim acontecem. Será que elas acontecem só com quem não visualiza?
Não existe meio em suas vidas de você garantir como as pessoas vão agir; suas visões não podem fazer as coisas acontecerem exatamente como você quer que aconteçam. Às vezes, apesar de ter uma grande visão do cliente cheio de euforia comprando o seu produto, ele poderá expulsá-do escritório. Mas a sua visão pode fazer você, apesar de tudo, ter melhor desempenho e, portanto, aumentar a sua média de sucesso. Noutras palavras, a visualização funciona dentro da média.

A chave para torná-la eficaz, entretanto, é não abandoná-la a cada vez que uma situação não der certo em relação às coisas que você visualizou não estarem saindo conformes; você poderá ficar decepcionado de vez em quando. Em alguns casos será necessário fazer várias tentativas para produzir o resultado visualizado. Acontecem coisas que jamais imaginaria que fossem possíveis, coisas diametralmente opostas às suas visões. Mas, tudo bem. Mantenha suas visões ativadas e, na média, elas trabalharão por você.

O Plano Alternativo

Vamos retomar um exemplo de vendas. Você visualizou uma cliente bem-humorada, de água na boca para sua proposta e assinando o contrato, mas o encontro real em nada coincide com a visão. A cliente acaba de chegar do Fórum, de onde saiu perdendo na partilha para o ex-marido, que ela detesta, e está de péssimo humor, e só lhe concede oito minutos em vez de trinta, não presta muita atenção e acaba simplesmente dizendo não, não há como fazê-la comprar. Faça-se as pergunas abaixo:
1. Quais foram as suas expressões faciais, comportamento e palavras depois que ficou claro que o encontro não estava saindo de acordo com a sua visão? Você revelou-se meio desapontado, desanimado, frustrado ou furioso?
2. Você desempenhou bem, ou o golpe imprevisto abalou-o a ponto de fazê-lo desempenhar abaixo de sua capacidade?
3. O encontro foi um sucesso ou não?
Se você só tinha uma visão, somente uma cena positiva para o encontro, e esta não aconteceu, é muito provável que tenha se sentido desapontado ou furioso; sua perplexidade pode ter sido tamanha que nem soube o que dizer ou fazer e, portanto, teve um mau desempenho e pode ter deixado o prédio com a impressão de nada estar mais longe do sucesso do que este encontro.
Ou poderia ter uma visão alternativa implantada que cuidou de vocêm em tais circunstâncias. Você pode, por exemplo, ter se visualizado reagindo de uma ceta maneira se qualquer coisa fizesse o plano inicial falhar,; pode ter se visto calmo e senhor de si, controlando-se com graça e estilo e pode ter se visto realmente sorrindo e irradiando mais simpatia ainda, ao lidar com uma cliente mal-humorada.
Uma visão alternativa é meramente o reconhecimento de que suas visões podem de vez em quando não funcionar. A visão alternativa lhe dá força para fazer uma situação adversa também trabalhar a seu favor. Em outras palavras, você estará preparado parar sair--se extremamente bem, aconeça o que acontecer.
Digamos que você vá pedir aumento ao seu supervisor e sua visão onde ele dá total assentimento e aprovação não acontece. O que fará agora? Sem uma visão alternativa, estará deixando por conta dos comandos instalados, que foram entrando aleatóriamente no seu subconsciente por anos a fio. E o comando do seu comportamento poderia ser o de ficar surpreso com a reação. Sem pensar, você poderia sentir-se desanimado ou até furioso, e poderá dizer coisas dos quais se arrependerá mais tarde.

Com uma visão alternativa, porém, poderá muito bem fortalecer sua posição após uma resposta negativa da parte do seu supervisor. Lembre-se: você pode controlar em grande parte o que acontece na sua vida, mas quando é algo que está fora do seu controle. Pode não conseguir o aumento hoje mas, se tiver total autocontrole depois da recusa inicial, estará reforçando sua posição e terá uma chance bem melhor de mais tarde conseguir o aumento.
Conheço um jogador de golfe que visualiza uma cena alternativa. Ele imagina sua bola numa posição difícil, na areia ou atrás de uma árvore, e vê-se cheio de calma e confiança ao sair com perícia da situação. Embora passe a maior parte do tempo visualizando o plano principal (uma grande tacada), a visão alternativa está implantada em seu cérebro, pronta para dirigir seu comportamento sempre que for necessário. Com certeza, quando se encontra em uma situação difícil, seu plano alternativo entra em ação e o orienta. A diferença de outros jogadores, que jogam o taco longe, dizem palavrões e têm um desempenho ainda pior depois de uma tacada ruim, ele se recupera com elegância e joga uma grande partida, no geral.

Não se trata de Pensamento Negativo

Uma visão alternativa não é pensamento negativo, se fizer a coisa de maneira correta. Com uma boa visão alternativa você se sente numa situação difícil, mas não se vê falhando, e sim dominando a situação com graça e elegância. Como James Bond, você enfrenta desafios específicos à medida que cumpre sua missão, mas sempre consegue manejar cada um deles.
Uma visão negativa representa a situação sempre dando errado, não importa o que você fizer. Uma visão alternativa representa você se saindo bem, embora o sucesso seja de um tipo diferente do da visualização principal. Uma boa visão alternativa pode fortalecer sua posição e aumentar as possibilidades de realizar o plano principal no futuro.

A Visão do Processo

Geralmente visualizamos o resultado final de qualquer ocorrência desejável. Por exemplo, você pode imaginar-se subindo ao palanque e fazendo uma apresentação brilhante para o seu grupo de trabalho no período em que a empresa entra em recesso. Mas, que tal visualizar-se fazendo todos os preparativos necessários à apresentação? Por que não só fazendo uma excelente apresentação, mas também sentado à mesa da sua copa preparando o discurso?
Imaginar o resultado final é muito bom, mas não tem toda a força que poderia ter com um pouquinho de ajuda. Você pode querer criar outra visão, visão de processo, que dá força à visão primária. Ela é como um foguete propulsor que põe em órbita sua cota de recompensas e representa o processo de concretização da visão do resultado final.
Houve um tempo em que este livro não passava de uma criação da minha mente. Para torná-lo uma realidade, comecei visualizando o resultado final, ou o livro todo escrito. Vi-o. Vi o design da capa e vi-o nas estantes das livrarias, vi pessoas lendo-o com extremado interesse e animação - pelo que eu saiba, posso ter visualizado você lendo este livro. Senti toda a emoção e o prazer que me dava chegar até às pessoas e ajudá-las com o que escrevi. Visualizei o produto final como uma forma de inspirar-me a criar o material e escrever o livro.
Mas isto não bastava. Afinal, tenho uma infinidade de outras coisas para fazer além de ficar várias horas e dias escrevendo. Criei uma visão de processo para suplementar minha visão básica. Visualizei-me no meu computador criando o manuscrito e acrescentei uma emoção positiva à cena: divertimento. Tornei o processo divertido em minha mente. Com essa visão eu tinha muito mais disposição e capacidade para passar horas a fio, doa após dia, escrevendo no meu computador. Afinal, eu estava fazendo o que escolhi, trabalhar estava em harmonia com o que eu queria.
Quando você criar uma visão de base ou do trabalho pronto, pergunte-se se uma visão de processo também ajuda. Vezes há em que você não sabe que processos estavam em jogo para a visão final tornar-se realidade, mas tudo bem, no fim das contas acabará ficando claro o que é preciso fazer para transformar a sua visão em realidade. Quando isto acontecer, visualize o processo produtivo para aviar as coisas.

Como Visualizar o sucesso e fazê-lo acontecer

- Primeiro Passo: Crie uma visão de carreira em sua mente. Você é o roteirista, pode fazer as coisas acontecerem em sua mente como bem entender. Crie uma cena onde está fazendo o que deseja fazer, na posição em que deseja estar. Dê a expressão das emoções ao seu próprio rosto no desenrolar da cena e veja-se reagindo cm emoções positivas enquanto tudo acontece. Veja os outros também demonstrando certas emoções. A vida transpira movimento, portanto você quer que a sua visão seja como um filme, e não como umas poucas fotografias. Deixe a cena passar pela sua imaginação. (Embora pensemos em visões como quadros mentais, não tem que ser assim necessariamente. Às vezes simplesmente pensar a respeito de alguma coisa, sem dar a ela configuração de imagem, pode ser uma forma de visão igualmente eficaz).
- Segundo Passo: Repita duas vezes por dia a visão de carreira. Reserve algum tempo para o exercício da visualização. Se não restringir o tempo diário a qualque coisa entre 30 segundos a dez minutos, acabará esquecendo de praticar. O levantar-se e o deitar-se são momentos bastante oportunos, vá repetindo pelo menos duas vezes ao dia, até a visão concretizar-se.
- Terceiro Passo: Saiba que a sua visão de carreira ainda acontecerá. Fatalmente acontecerá e, por isso você acredita piamente na visão. No enanto, não sabe quando exatamente vai acontecer. Isso absolutamente não lhe diz respeito. Você sabe que o destino administra a sua própria agenda e que as grades forças do universo vão estar em seu benefício se você deixar que a natureza se encarregue do "quando". Não fixe prazos para quando uma visão de carreira deve tornar-se realidade.
- Quarto Passo: Crie visões de desempenho diário. Escolha uma determinada tarefa ou fato que você saiba que está para acontecer brevemente, e visualize-se desempenhando na sua melhor forma. Veja-se produzindo os resultados que deseja, repasse a visão uma hora antes de ter iniciado a tarefa ou o fato, ou então pela manhã, no dia.
- Quinto Passo: Crie uma visão alternativa. Visualize as coisas não acontecendo de acordo com o seu plano preferencial e veja-se mesmo assim reagindo com a devida compostura e auto-confiança. Não tente inventar um motivo para que tal coisa aconteça. Simplesmente veja-a acontecendo e você agindo com fineza, apesar de tudo. Ponha um sorriso nos lábios. Escolha uma ou duas emoções positivas para sentir na hora, caso esta cena venha a acontecer.
- Sexto Passo: Crie uma visão de processo. Veja-se tomando as providências cabíveis para sua visão preferencial acontecer. Acrescente uma emoção positiva ao processo, e sinta a mesma em sua mente ao imaginar-se em ação.

Técnica das Três Esféras de Luz

Por Valter Cichini Junior

Todos nós sabemos da importância de nos mantermos equilibrados em nosso dia a dia e cada um também sabe de suas dificuldades para colocar em prática essa serenidade. Uma das maneiras que temos para facilitar esse objetivo é realizar com freqüência exercícios bioenergéticos.
Existem diversas técnicas para desenvolvermos adequadamente nossos chacras* e esse desenvolvimento nos propicia um maior equilíbrio, repercutindo de maneira positiva em nosso ser como um todo. Através de exercícios simples podemos aprimorar nossa percepção e nos manter mais equilibrados.
Sugiro a seguir uma técnica que se baseia em visualização criativa, caso você tenha dificuldades com visualização dê uma olhada no artigo "Desenvolvendo a Visualização Criativa" que explica como desenvolver essa habilidade.
Antes de começar o exercício é interessante preparar o ambiente, tornando-o agradável e tranqüilo. Para isso podemos nos valer de músicas, incenso, velas, luz baixa entre outras coisas, use o bom senso e seu gosto pessoal para adequar o ambiente. Também é importante nos “darmos” esse momento, não atendendo telefones ou campainhas, reservando esse pequeno espaço de tempo apenas para isso.
Com o ambiente preparado nos sentamos de maneira confortável, mantendo a coluna ereta. Vamos fechar os olhos e procurar uma ligação com o Sagrado e Divino, cada um de nós, de acordo com nossas crenças e referências, busquemos essa ligação com o mais Alto.
Após essa ligação, usando nossa capacidade criativa vamos imaginar que na altura da nossa cabeça existe uma grande esfera de luz dourada, um dourado cintilante, com tonalidades vívidas. Imaginemos que nossa cabeça está dentro dessa esfera que pulsa como se tivesse vida própria, enquanto a imaginamos, nossa mente vai se tornando mais serena e calma, imaginemos que essa esfera de luz está removendo todas as nossas preocupações, todos aqueles pensamentos que não nos fazem bem, promovendo uma grande limpeza.

Mantendo essa visualização por uns três minutos começamos a imaginar a segunda esfera na altura do peito, sem deixar de visualizar a primeira. Uma esfera na cor azul, que também possui uma cor vívida e intensa. Essa esfera abrange todo o nosso peito pulsando com grande vitalidade. Imaginemos as duas esferas de mesmo tamanho, pulsando, cada uma ao seu ritmo e enquanto as visualizamos vamos percebendo toda a repercussão promovida em nosso ser, toda a limpeza e a leveza entre tantas outras sensações que percorrem nosso ser.
Depois de mais 3 minutos, complementamos nossa visualização com a terceira esfera, situada no baixo ventre, com uma cor alaranjada. Mais uma vez a esfera possui tonalidades que nos agraciam com sua beleza.
Durante toda a visualização, devemos manter a respiração tranqüila e equilibrada; ela deve ser mais lenta e profunda possível, sempre respeitando nossos limites.
Após mais três minutos, entramos na última parte do exercício, onde deixamos essas esferas se fundirem conosco; as cores vão se misturando ao nosso ser, não necessariamente na forma humanóide ou apenas nas cores específicas das esferas, vamos nos tornando essa luz de maneira plena. Que cada um de nós seja a luz!

Passados mais três minutos, retomamos pouco a pouco, a ciência do nosso corpo, prestando atenção nas sensações que percorrem nosso ser, vivendo-as intensamente.
Gradativamente, voltamos nossa atenção para o aqui e agora, guardando todo esse bem estar e encerrando o exercício.
Com essa prática simples, de aproximadamente 15 minutos, podemos ter um grande avanço em nosso equilíbrio e bem estar.
* Chacras (do sânscrito: rodas) = Centros de Força. Transformadores de energia sutil do plano espiritual para o físico. Localizados no duplo etérico, interligados por um sistema de nádis (sistema circulatório energético na freqüência do duplo etérico; um verdadeiro para-sistema nervoso interligando chacras e órgãos), e ligados às glândulas endócrinas.
Paz e Luz

Técnica de Limpeza Energética

Por Valter Cichini Junior

Vivemos em um mundo onde determinadas situações são impostas independentemente da nossa vontade e temos que lidar com elas. Pode ser um chefe pegando no pé, um funcionário dando trabalho, um colega de empresa criando problemas, filhos se envolvendo em confusões, atritos entre companheiros e companheiras, além de tantas outras coisas.
Esse tipo de situação gera em nós uma carga energética que não nos faz bem, podendo inclusive causar doenças e, infelizmente, estamos sujeitos a recebê-las a qualquer momento do dia ou da noite. Para limpar essa carga as pessoas costumam freqüentar lugares como Centros Espíritas, Templos Budistas, Terreiros de Umbanda, Igrejas Católicas ou qualquer outro lugar que tenha uma ligação com o Sagrado, usando dessa forma, a presença nestes lugares como técnica de limpeza.
Entretanto não é necessário se deslocar até um lugar desses, esperando o dia de uma reunião para proceder com a limpeza energética. É possível realizá-la diariamente, de forma simples e eficiente, e desta maneira se manter sempre bem. Não estou dizendo que ir a esses lugares não seja benéfico e tem lá suas razões de ser, mas não é necessário esperar o dia da reunião para fazer a limpeza necessária.
A técnica que vou sugerir baseia-se em visualização criativa. Caso você tenha dificuldades com visualização criativa dê uma olhada no artigo Desenvolvendo a Visualização Criativa que explica como desenvolver essa habilidade.
A técnica deve ser realizada durante o banho, embaixo do chuveiro e dura apenas alguns minutos.
Usando sua capacidade criativa, imagine-se em uma mata, veja as árvores, ouça os passarinhos, se aqueça com o sol, sinta a brisa suave no seu rosto, visualize as pedras e a vegetação mais baixa, tudo com a maior riqueza de detalhes que conseguir.
Dentro desse cenário você irá imaginar um rio que vem do bosque, passa por uma pequena queda d’água e segue seu curso. Você estará exatamente embaixo da queda, sinta a água do chuveiro caindo em suas costas e imagine que essa água é aquela da pequena cachoeira. Insira-se no contexto.
Você irá imaginar que toda a força da natureza vem pelas águas desse rio. A água lhe traz de presente esse “mimo” da Mãe Natureza. Quando a água bate em suas costas produz uma limpeza e, na seqüência, uma sensação de restabelecimento. Sinta essa repercussão no seu corpo e desfrute disso.
Para conseguir ver o resultado dessa técnica sugiro que primeiro tome um banho sem realizá-la e observe como sairá do banho. No dia seguinte realize a técnica e faça a mesma observação. Com certeza você terá uma grata surpresa. Realizando esse procedimento simples, que não toma muito tempo do nosso dia-a-dia, nos manteremos mais equilibrados para seguir nossa caminhada nesse belo planeta azul.
Paz e Luz
Valter Cichini Jr.