quinta-feira, 27 de novembro de 2008

FIB... Felicidade Interna Bruta


Sempre que se torna necessário, mesmo durante o dia, fujo para meu quarto, sento confortavelmente na cama e relaxo profundamente. Ora busco me concentrar na respiração, ora começo uma já breve contagem regressiva, ou simplesmente foco minha atenção em algo, que pode ser um mantra ou um aspecto que quero desenvolver de forma profunda e legal, como é o caso agora.

O silêncio é o maior aliado e uma vez atingido um determinado ponto, a correta freqüência de ondas cerebrais, começa a viagem suave dentro de mim, sempre preciosa e reveladora. Invariavelmente, o gato Zé capta esta passagem de fase e devagarinho se posiciona sobre meu colo, enrolando-se e assentando-se, ficando assim totalmente à vontade. Muito independente, nunca faz isso em outras situações; mas toda vez se recusa a sair de seu "ninho" quando preciso voltar às tarefas que me esperam. Este é um dos pontos altos de minha vida, estou em paz com todos, ando muito a pé pelo bairro, encho o tanque do meu velho carro uma vez por ano e utilizo, para deslocamentos maiores, uma moto bem conservada que já não paga IPVA faz oito anos.

A saúde está perfeita e não tomo remédios praticamente desde que comecei a meditar em 1986. Desde 1999, comecei a largar tudo que durante uma vida foi meu trabalho e meu sustento. Vivo de forma espartana, simples. Os filhos e a amizade dos colaboradores - mais ou menos próximos - também são minha grande alegria.
Dá pra perceber que não considero o que realizo no STUM um trabalho e sim uma conquista? Mesmo com os inevitáveis percalços, afinal, o site é uma empresa prestadora de serviços, e isso pode criar situações de estresse, estou quase sempre fazendo o que gosto e isso simplesmente não tem preço.

Sei bem que pode ser muito difícil chegar até este ponto... com certeza foi fundamental ter experimentado várias outras situações e atividades, permitindo-me fazer comparações com experiências vividas, pesando prós e contras, lembrando as dezenas de milhares de horas perdidas no trânsito, as estruturas claustrofóbicas cristalizadas de algumas empresas ou os desafios criativos de outra ordem e de muita intensidade, gerando também satisfação profissional e pessoal.

A diferença entre fazer o que realmente gostamos ou lutar para conquistar o "sucesso" da forma que conhecemos hoje, pode ser simplesmente o que separa o bem-estar verdadeiro da permanente insatisfação que acompanha a maioria dos que estão numa frenética roda-viva influenciados pelos altos brados da mídia. Ainda é complicado falar com estes sobre autoconhecimento, espiritualidade, mudanças, todas palavras sem muito sentido, consideradas como mais um modismo ou algo ainda mais inútil e passageiro.

Por "sorte", outras pessoas, em algum momento de sua vida, cansadas e ressabiadas resolvem que está na hora de realizar uma mudança radical, conscientes de que já não adianta mais buscar lá fora... chegou a hora de olhar para dentro e é quando, finalmente, percebem que é onde se encontram todas as respostas, bem como todas as ferramentas e apetrechos necessários para iniciar uma viagem fascinante que não tem fim e que se chama de "A viagem da Alma". O ponto de mutação foi ultrapassado.

Mas... e os outros irmãos?
Sei muito bem o quanto é difícil tocar a alma dos que ainda vivem ritmos frenéticos em busca de objetivos materiais ou que ainda lutam bravamente para sobreviver neste sistema social perverso e desolador. Por outro lado, sei que todos iremos ouvir nosso coração, mais cedo ou mais tarde, pelo amor ou pelo sofrimento (como foi o meu caso); óbvio que já fui parte integrante dessa massificação sistemática que hoje somente me cria desconforto e desalento... mas recebi, na época, muita ajuda deste plano e do outro; em muitos casos, me espelhei em pessoas despertas, coerentes e amorosas... e está mais do que na hora de retribuir o que recebi para impulsionar os outros em suas caminhadas.

E a informação fartamente disponível na Internet é uma preciosa fonte diferencial; precisamos acompanhar (e selecionar) este fluxo precioso de dados, para que tenhamos a noção correta do que se passa aqui e lá fora. Lamentavelmente, muitos indicadores são preocupantes, mostrando o rumo confuso (para dizer o mínimo) que a sociedade escolheu atualmente.

Fiquei chocado ao ler como os antidepressivos são consumidos de forma alarmante por aqui; sua venda no Brasil cresceu 42% em quatro anos!
Outro dado assustador mostra que somente em uma década, nos EUA, aumentou em 18% o índice de hipertensos (isso antes da crise econômico-financeira que abalou o mundo...).
Somente para lembrar aqui e agora o que está na origem de tantos problemas: 20% da população mundial responde por 86% do consumo global, de 45% da carne; de 58% da energia; de 84% do papel e 87% dos carros.

Mas a mudança é real e palpável, tem se acelerado e está aí para que todos vejam. Um sinal e tanto: um dos símbolos mais importantes do sistema, a General Motors, que foi até o ano passado a maior produtora de veículos do mundo, chegou a ter sua ação em bolsa valendo, na semana passada, a ninharia de 2.63 dólares... um papel que chegou a valer 90! Um gigante, um símbolo mundial está despencando, falindo... caso não receba o auxilio do governo americano!... Por que será?

O Universo está com pressa.
Vamos parar de colocar nossa energia nesses e nos muitos outros fatos ocorrendo no mundo de forma brusca e em rápida sucessão, antecipando tempos ainda mais sombrios acerca do atual sistema econômico mundial. Vamos tratar de algo positivo, que está acontecendo agora e que tem tudo a ver com a primeira parte deste texto: a busca por uma qualidade de vida melhor, redefinido os parâmetros, os valores REAIS que nos permitem, em qualquer lugar, idade e situação, saborear e vivenciar toda a dimensão de beleza, felicidade e amor que está e sempre esteve nos acompanhando.

Para tanto é necessário que os paises deixem de considerar o PIB (Produto Interno Bruto) como o principal indicador para classificar, qualificar um país em escala mundial. O desgaste da classificação em função da riqueza produzida chegou a um ponto crucial. Ficou totalmente obsoleto e deverá, na nova era que se aproxima, deixar seu lugar a outros aspectos, que finalmente levem em conta o SER em contraposição ao TER;

Este boletim foi inspirado em um texto que li na Folha de São Paulo sobre o conceito que já vem de longa data e que está sendo aplicado seriamente em alguns paises importantes como o Canadá com o seu CIW (Índice Canadense de Bem-estar), apelidado de FIB (Felicidade Interna Bruta), e a riqueza dará lugar a esses tópicos:
Bem-estar em contraposição a dinheiro a qualquer custo;
Sustentabilidade X uso perverso de energia não-renovável;
Legado às futuras gerações X exploração descontrolada dos recursos naturais;
Prevenção REAL de doenças X detecção rápida de doenças;
Comunidade X individualidade;
Conhecimento real X Conhecimento distorcido a serviço do sistema;
Unidade X separação;
Redefinição de padrões de qualidade de vida X Padrões orientados pelo TER;
Uso criativo do tempo X "O tempo é dinheiro";
Inclusão social X preconceito e separação;
Espiritualidade universalista X religiões dogmáticas e seitas;
Ética X degradação moral;
Dimensão global X nacionalismo e patriotismo;
Produção e consumo racionais X Produção de supérfluos e marketing irrestrito;
Valorização das sabedorias ancestrais e dos mais velhos X Desrespeito atual.

Desejo de todo coração que quem está hibernando, acorde, que a Luz contemple e toque com seu brilho e calor mais e mais seres humanos para que a mudança avance sem parar.

É algo real. Sabemos que não se trata de utopia. Se eu mudei do que era e hoje estou aqui finalmente fazendo minha parte... TODO MUNDO PODE MUDAR!
Basta que o recado, suave, amoroso e inteligente que venha a tocar nosso coração nos sensibilize, atuando firme no nosso centro, despertando o sentimento mais forte e incorruptível que existe: o Amor Incondicional.

Que venha então uma grande epidemia, um contágio total provocado por essa energia que está na base de tudo, que essa força atue em todos os seres e, assim, quando a maioria entrar na sintonia, o mundo passará de fase, dará um salto para o alto, realizando desta forma, com todos a bordo, a verdadeira ascensão que muitos estão esperando e merecendo.
Sim, é possível, nós podemos, pois somos um só!

Namastê
Sergio STUM

http://somostodosum.ig.com.br

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Demita, seu médico


A ciência descobre que ter saúde é simples e requer pouco esforçoConheça os truques que garantem uma vida longe das doenças

A medicina passou por uma grande revolução na última década. Enquanto o Projeto Genoma, as invenções do Prozac e do Viagra e os transplantes milagrosos preenchiam as manchetes, descobertas simples e de grande impacto transformavam a maneira como médicos tratavam os problemas de saúde e tentavam evitá-los. Foi preciso que surgissem medicamentos para alguns dos males que mais atacam a humanidade – hipertensão, derrame, diabete, depressão – para perceber que esses problemas podem ser curados antes mesmo que apareçam, e sem precisar de remédio nenhum. “Até então, os médicos esperavam a doença surgir para depois medicá-la. Hoje, os profissionais de saúde estão mais preocupados em promover saúde que em eliminar a doença”, afirma o médico Victor Matsudo, do Centro de Estudos do Laboratório de Aptidão Física de São Caetano do Sul (Celafiscs), em São Paulo.

O que causou essa mudança? "Foi uma evolução natural da medicina", diz Michael Pratt, chefe da divisão de atividade física e nutrição do Centro para o Controle e Prevenção de Doenças (CDC), nos Estados Unidos. As doenças que mais preocupavam há 100 anos eram infecções como poliomielite, tétano ou sarampo e foram drasticamente reduzidas com a utilização de vacinas e antibióticos. Por outro lado, doenças decorrentes do estilo de vida atual subiram ao topo do ranking entre os agentes que mais matam, não importa a origem ou a classe social.

"Descobrimos que prevenir as doenças crônicas é muito mais fácil do que imaginávamos", afirma Pratt. Não é preciso ser nutricionista para ter uma alimentação adequada, nem esportista profissional para ter boa aptidão física. Na verdade, os melhores resultados requerem muito pouco esforço e precisam apenas de medidas que faziam parte do nosso dia-a-dia há algumas décadas, mas que o estilo de vida na sociedade pós-industrial tratou de eliminar. Ao mesmo tempo, a importância da ingestão de remédios está sendo revista. Percebeu-se que utilizar medicamentos, em muitos casos, faz mais mal do que bem.

Nas páginas a seguir você verá qual é esse novo retrato da medicina. Se tudo der certo, é possível que os remédios e curas espetaculares que aparecerão nas próximas décadas não impressionem mais ninguém. O que chamara atenção é o fato de alguém ficar doente.

Remédios, esqueça a farmácia O maior difusor dos remédios até hoje, considerado o criador da farmacologia, foi Paracelso, um suíço que viveu no século XVI e que, quase sem nenhum treinamento formal, afirmou que as doenças eram desequilíbrios químicos que com substâncias químicas deveriam ser tratados. Ele defendia que a única forma de descobrir o tratamento correto era pela experimentação. Com esses métodos, aplicava compostos à base de ferro para curar anemias e utilizava soluções de mercúrio como terapia para sífilis. Nos séculos seguintes, cientistas conseguiram, com práticas semelhantes, elaborar uma lista de milhares de compostos capazes de interferir nos mais diversos males.

Apesar da evolução dos medicamentos, existe um outro lado das lições de Paracelso que tem ganhado cada vez mais importância. Ele dizia que a diferença entre um remédio e um veneno é a quantidade que se toma. Pesquisas recentes mostraram o quanto ele estava certo. Descobriu-se, por exemplo, que nosso corpo é muito sensível a alguns metais. Sabe-se agora que o limite de chumbo que uma pessoa pode carregar no corpo humano é quatro vezes menor do que se acreditava há 20 anos. Uma reavaliação drástica ocorreu também com o mercúrio, o que levou à retirada das farmácias de curativos como o Merthiolate e de outros remédios que eram administrados sem critério a crianças até há bem pouco tempo. As descobertas também levaram a uma maior preocupação com a poluição ambiental, uma vez que a absorção desses componentes maléficos ocorre muitas vezes por água contaminada.

Da mesma forma, ficaram cada vez mais claras as conseqüências do uso incorreto de remédios. Uma pesquisa realizada na Universidade do Texas no ano passado com 307 pessoas com danos graves no fígado mostrou que 35% dos casos estavam associados ao uso excessivo de paracetamol, o princípio ativo de analgésicos como o Tylenol. Os médicos sempre souberam que essa substância libera subprodutos tóxicos que devem ser metabolizados pelo fígado e que, se ingerida em excesso, pode danificar o órgão. O que surpreendeu foi a quantidade de pessoas que a ingeriam sem controle. "Não há remédio que possa ser tomado em grandes doses. Cada um tem seu efeito tóxico", afirma o clinico geral Flavio Dantas, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Analgésicos e antiinflamatórios, tomados em excesso, causam danos renais. Tranqüilizantes, por sua vez, podem gerar dependência.

O uso indiscriminado de medicamentos pode causar danos tão graves quanto os males que eles deveriam prevenir. "Proteger demais o organismo pode desequilibrá-lo", diz Flávio. Sabe-se, por exemplo, que o uso de antibióticos para tratar infecções durante os primeiros seis meses de vida aumenta a probabilidade de asmas e alergias. Há também evidências de que indivíduos que crescem em ambientes excessivamente higienizados e com pouco contato com outras pessoas têm maior probabilidade de ter asma, diabete tipo 1 e esclerose múltipla.

O que fazer Usar o mínimo de remédios necessário. “Quanto menos medicamentos tomarmos, melhores serão as implicações para a saúde", afirma o toxicologista Anthony Wong, do Hospital das Clínicas, em São Paulo. Essa receita vale até para os suplementos vitamínicos. As substâncias que eles contêm são sem dúvida úteis para prevenir centenas de doenças, mas não há comprovação de que uma dose extra seja necessária. "Uma dieta normal é suficiente para suprir todas as necessidades diárias de vitamina", diz Anthony. Existem pesquisas que indicam que essas pastilhas suprem algumas deficiências e diminuem o risco de doenças cardíacas, mas, do outro lado, estudos apontam que o excesso de vitaminas pode levar a males que variam da anemia até a danificação de genes. Na maioria dos casos, tudo o que os suplementos fazem é encarecer a urina: o rim filtra as substâncias que sobram e as elimina.
"Remédios só devem ser receitados por médicos", afirma Flávio Dantas. Mesmo assim, deve-se evitar um número enorme de medicamentos. "O médico deve dar chance para a pessoa resolver o próprio problema. Há pacientes que chegam tomando 20 ou 30 pílulas e saem com duas ou três, que resolvem o essencial", dia Antonio Carlos Lopes, chefe da disciplina de clinica médica da Unifesp. O importante é prestar atenção ao que acontece com seu corpo e não super protegê-lo. Perceba quais sintomas são normais e procure um médico se sentir uma dor diferente, com duração ou intensidade maiores.

Continua valendo a orientação de check-ups anuais para mulheres acima de 45 anos e homens acima de 40 anos. O que mudou foi a importância que a família tem nessa questão. “A avaliação e a abordagem das doenças mudam de acordo com o histórico de cada um", afirma Antonio Lopes. Se a família possui uma tradição de problemas como colesterol alto ou alguns tipos de câncer, os testes devem ser feitos ainda antes. A medicina já evoluiu a ponto de ver diretamente no código genético a propensão a determinadas moléstias. "Já foram identificados os genes responsáveis por mais de mil doenças, como cânceres, males neurológicos e psiquiátricos", afirma a geneticista Cassandra Corvello, coordenadora do centro de genética molecular do laboratório Fleury, em São Paulo. Existem testes - que ainda custam milhares de reais - que identificam muitos desses males e, dentro de alguns anos, é possível que a lista de doenças com um diagnóstico genético inclua também diabete, problemas cardíacos, mal de Alzheimer, esquizofrenia e depressão. "O teste apenas indica um fator que aumenta certos riscos. O desenvolvimento da doença depende de como a pessoa se comporta ao longo da vida", diz Cassandra Corvello.

E se nada disso funcionar? O que fazer com aquela dor de cabeça, insônia ou cólica que aparece todo mês e incomoda, mas não justifica uma ida ao médico ou ao hospital? Para os clínicos, casos como esses são suficientes para que se tome um remédio conhecido - e de venda livre - que resolva o problema, com o cuidado de ler a bula e verificar a freqüência com que ele deve ser ingerido. "A auto-medicação funciona para problemas crônicos simples, mas deve ser feita de forma consciente, depois que o paciente foi informado que aquela é a solução para seu problema", diz Flávio Dantas. E evidente que remédios com tarja vermelha só devem ser administrados com orientação profissional.

É recomendável, no entanto, buscar outras soluções. "Às vezes, os remédios só disfarçam as sintomas. Uma água de coco ou uma laranja podem bastar para resolver o problema", diz Antonio Lopes. A receita varia de acordo com o mal. "Para insônia, por exemplo, o melhor remédio é meditação", diz Anthony Wang.

Futuro: um comprimido com seu nome A indústria farmacêutica está tentando transformar três dos acontecimentos mais marcantes da última década - a proliferação do vírus da Aids, o mapeamento do genoma humano e a desenvolvimento da informática - em ótimas notícias para os pacientes. A tentativa de eliminar o HIV deu aos cientistas informações detalhadas sobre como funciona o sistema imunológico e novas perspectivas de vacinas. Com isso, é possível que nas próximas décadas surjam formas de se imunizar contra o vírus ebola, a tuberculose, a malária, tumores, alguns tipos de câncer e até doenças cardíacas (o acúmulo de colesterol nas artérias pode ter origem em uma inflamação causada por bactérias).

Já existem empresas que mapeiam o genoma de qualquer pessoa por algumas centenas de milhares de dólares. Quando o método baratear, será possível obter o perfil genético não só de cada paciente como também do vírus ou bactéria que o infectou. "Os medicamentos de hoje são um sucesso para alguns pacientes e um fracasso para outros. No futuro, eles serão projetados de acordo com o perfil do paciente", diz o clínico geral Antonio Lopes, da Unifesp.

Na hora de ministrar os remédios, chips microscópicos implantados no organismo poderão distribuir os medicamentos na hora, na dose e no local exato em que sejam necessários. Já existem vários protótipos em teste, mas ainda há dificuldades a serem superadas, como a garantia de que eles funcionarão sempre e não serão rejeitados pelo organismo.

Nutrição: comer bem como antigamente.O Brasil está se tornando muito semelhante aos países desenvolvidos, não na distribuição de renda ou nos serviços sociais, mas nos hábitos alimentares. Além de beliscar salgadinhos diante da televisão e almoçar fora de casa, o brasileiro mudou sua dieta - e para pior. O tradicional prato feito de 10 ou 20 anos atrás - arroz, feijão, carne, ovo e verduras - deu lugar a variações menos saudáveis, como salgadinhos, tortas, biscoitos, frituras, empanados e sanduíches. "As porções de produtos com muita gordura ou açúcar também aumentaram", afirma a nutricionista Ana Maria Lottemberg, do Hospital das Clínicas, em São Paulo. O saquinho de pipoca da porta do cinema se transformou em um enorme balde e as garrafas de refrigerante dobraram de tamanho. Em São Paulo, por exemplo, a dieta da população é composta de cerca de 40% de gorduras, uma taxa semelhante à dos Estados Unidos e muito acima da recomendada. "O brasileiro trocou o arroz e feijão - que equilibra as proteínas de origem vegetal e é uma boa fonte de fibras, ferro, minerais e outros nutrientes - por carboidratos simples e gorduras", afirma a engenheira agrônoma Elizabeth Torres, da Universidade de São Paulo (USP). A troca faz sentido sob o ponto de vista do prazer da refeição: gorduras são mais gostosas e melhoram a textura dos alimentos. O problema é que, assim como as comidas, a barriga do brasileiro também ficou mais adiposa.
"Estamos em uma fase de transição da desnutrição para a obesidade", afirma Ana Maria Lottemberg. Cerca de 23% das mulheres e 17% dos homens brasileiros já são considerados obesos, e esses índices crescem rapidamente, acompanhando uma tendência internacional. "A obesidade é uma epidemia mundial. Assim como os ricos, há uma enorme massa urbana pobre nos países em desenvolvimento que é obesa", diz Michael Pratt, do CDC.

Junto com o peso, aumentou a incidência de doenças como hipertensão arterial, excesso de colesterol e diabetes. O que caiu foi o astral dos que se enquadram nesses problemas. Está cada vez mais clara a relação entre obesidade e problemas psicológicos, especialmente em menores de idade. Uma pesquisa realizada esse ano na Unifesp mostrou que 80% dos jovens acima do peso apresentavam sintomas de depressão, contra 21,7% daqueles que tinham o peso normal. "Crianças obesas têm mais vergonha de si mesmas e estão mais sujeitas a gozações por parte de seus colegas. A conseqüência é que elas tendem a se isolar socialmente", afirma o pediatra Oded Bar-Or, da Universidade de McMaster, no Canadá, considerado um dos maiores especialistas mundiais em atividade física para adolescentes.

O que fazer Um bom passo é tentar voltar à dieta brasileira tradicional. Se você já esqueceu o que comíamos há duas décadas (ou não consegue mais viver sem biscoitos recheados e nuggets crocantes), equilibre suas refeições da seguinte forma: 55% de carboidratos, 30% de gorduras e 15% de proteínas. "A melhor dieta é a variada, com alimentos de todos os grupos", diz Elizabeth Torres. Como regra geral, as substâncias vegetais que trazem benefícios à saúde são as mesmas que dão cor aos alimentos, então deixe seu prato tão colorido quanto um destaque de carro alegórico. Tente também diminuir o intervalo entre as refeições. Ao menos em teoria, essa medida faz você comer menos. Outra dica é antecipar as refeições - o organismo gasta menos energia a noite e a acumula na forma de gordura. "O ideal é ter café da manhã de rei, almoço de príncipe e jantar de plebeu", diz Elizabeth Torres.

A pior heresia alimentar é comer e ver TV ao mesmo tempo. "Pessoas diante da televisão não percebem o que estão comendo e ficam espantadas quando informamos o quanto de alimento elas ingeriram enquanto viam os programas", afirma Oded Bar-Or. Além de distrair o espectador, a televisão estimula a ingestão dos alimentos errados. Uma pesquisa realizada na USP em setembro mostrou que 25% dos comerciais televisionados eram de produtos alimentícios e, dentre as comidas que eles promoviam, 57% tinham altos teores de gordura ou açúcar. O mal à saúde que esses anúncios causam fez a União Européia estudar restrições - semelhantes às impostas aos cigarros - a propagandas de bebidas açucaradas e de fast-foods dirigidas a crianças.

E se nada disso funcionar? Apesar de não ser tão difícil manter uma dieta saudável, a correria das cidades nem sempre permite equilibrar os alimentos da forma correta. A ótima notícia é que explodiram em todo o mundo pesquisas que afirmam que certos alimentos, além dos nutrientes, possuem substâncias especiais capazes de prevenir doenças e melhorar a saúde. Não são capazes de evitar doenças quando elas já se manifestaram, mas se tomadas na dose certa diminuem bastante a chance de que elas apareçam. Veja abaixo alguns desses alimentos:

Tomate - contém licopeno, um poderoso antioxidante que ajuda a combater cânceres como o da próstata. Outra boa fonte desse composto é a melancia.

Óleo de canola - rico em ômega 3, um tipo de gordura que ajuda na coagulação, evita trombose e reduz moderadamente os triglicérides. A substância é também encontrada em peixes de água fria, como o salmão.

Castanha-do-pará - é um dos alimentos mais ricos em selênio, que reduz o risco de cânceres como o do pulmão e o da próstata.

Brócolis- assim como a couve e o repolho, possui um grande estoque de fitoquímicos capazes de diminuir o risco de câncer de cólon e de mama.

Cenoura - contém betacaroteno, que retarda o envelhecimento da pele e reduz o risco de câncer.

Cereais - são riquíssimos em fibras, que melhoram o trânsito intestinal e regulam o colesterol e a glicose, além de dar a impressão de saciedade.

O essencial é conhecer cada comida e investir naquelas que previnem as doenças que mais atacam na sua família. É preciso, no entanto, ter em mente que nenhuma delas garante sozinha uma boa alimentação. "Não existem alimentos milagrosos. Uma dieta balanceada garante mais benefícios do que qualquer um desses ingredientes", diz Ana Maria Lottemberg. Além disso, muitos desses alimentos têm gorduras que, em excesso, fazem mais mal do que bem.

Futuro: A pílula anti-gordura Um dos sonhos dos cientistas é conseguir fazer com a comida o que os anticoncepcionais fizeram com o sexo: separar o prazer de suas conseqüências biológicas. O objetivo é encontrar compostos capazes de transformar em calor a energia extra adquirida na alimentação e evitar que ela se acumule no organismo. Já foram identificadas algumas substâncias químicas com características promissoras, mas quase todas com graves efeitos colaterais ou impossíveis de serem utilizadas em remédios. Existem, no entanto, alguns medicamentos em teste e não é impossível que essa pílula surja nas próximas décadas. Não saia correndo para o rodízio: mesmo que isso aconteça, ela ficará restrita ao tratamento de obesos mórbidos até que prove ser 100% segura para ser utilizada por qualquer pessoa.

Exercícios: Saúde em atividade mínima Você faz há 20 anos o mesmo exercício para a melhorar a saúde? Continue fazendo, mas esqueça tudo o que lhe ensinaram naquela época sobre atividade física. Pesquisas feitas nos últimos dez anos revolucionaram todos os conceitos que ligavam os esportes à saúde e trouxeram boas e más notícias. A má é que as doenças causadas pela falta de exercícios são mais graves e mais disseminadas do que imaginávamos. A boa é que preveni-tas é extremamente fácil.

Só em 1992, a Organização Mundial de Saúde reconheceu o sedentarismo como um mal em si. Até então, ele era apenas um fator que contribuía para doenças como obesidade, diabete, colesterol alto e hipertensão. Quando a falta de exercício físico foi analisada de forma independente, percebeu-se que ela figurava entre os piores flagelos da humanidade. Um estudo coordenado por Michael Pratt mostrou que as doenças causadas pelo sedentarismo consomem por ano 76 bilhões de dólares, o equivalente a 70% dos gastos hospitalares mundiais. “O prejuízo que a falta de atividade física traz para o Brasil é semelhante ao encontrado nos países desenvolvidos", diz Pratt.

Em 1995, um estudo feito com mais de 20 mil pessoas mostrou que um obeso que faz exercícios tem uma expectativa de vida maior do que um sedentário com a peso correto. Em seguida, cientistas mostraram que indivíduos com problema de excesso de colesterol, com diabete ou com hipertensão que são ativos morrem menos do que sedentários que não possuem nenhum desses males. O sedentarismo só não mata mais do que o cigarro - quem fuma, mas se exercita, tem a mesma chance de ter doenças crônicas que um não-fumante que fica parado dentro de casa. “A diferença é que o número de pessoas que não fazem atividade física é muito maior que o de fumantes, o que torna o sedentarismo a maior epidemia do mundo", afirma Victor Matsudo, do Celafiscs.

A lista de enfermidades causadas pela simples preguiça de se movimentar inclui ainda derrames, câncer de cólon, fraturas e artrites. Há também o perigo de doenças mentais. "Além de causar depressão, descobriu-se que o sedentarismo aumenta a probabilidade de a pessoa cometer suicídio", diz Victor Matsudo.

O que fazer A descoberta dos malefícios da falta de exercício fez os cientistas esquecerem a idéia de preparo físico e a busca por melhores desempenhos e se perguntarem simplesmente o que é preciso fazer para evitar doenças. A resposta foi surpreendente: bastam 30 minutos de atividade física por dia, cinco vezes por semana. A intensidade não importa. Vale qualquer exercício capaz de fazer o seu metabolismo funcionar mais rápido do que em uma situação de descanso, desde caminhar e jogar futebol até lavar janelas e subir escadas. Fazer sexo também entra na lista.

Essa descoberta já foi o suficiente para aposentar os princípios da "educação física verde-oliva" - a idéia de que exercício bom era aquele que levava o corpo ao limite, tal como a preparação de soldados para a guerra - e diminuir a importância daqueles exercícios sérios e calculados dos anos 70 que deram origem às academias, bicicletas ergométricas e esteiras. O golpe final veio quando se percebeu que os 30 minutos de atividade diária poderiam ser divididos em três sessões de dez minutos, com resultados praticamente iguais. Ou seja, caminhar até a padaria de manhã, até o restaurante na hora do almoço e descer um ponto de ônibus antes ao voltar para casa garantem a saúde de qualquer um. Não é mais preciso pagar academias nem ter um planejamento detalhado de atividades físicas.

Quem optar por exercícios sérios, no entanto, só tem a ganhar. Meia hora de atividade física por dia é o limite a partir do qual surgem os benefícios à saúde, mas quem prolongar ou aumentar a intensidade dos esforços terá mais vantagens. O único problema é que exercícios intensos aumentam a pressão sobre músculos e ossos e podem levar a lesões que afastam a pessoa da atividade física. "Muitas vezes, o benefício à saúde de um treinamento de alta performance é nulo. O atleta ganha preparo físico no mesmo ritmo em que sofre lesões que o paralisam", diz Victor Matsudo. Como a questão essencial é praticar exercícios de forma constante, atividades intensas nem sempre são uma boa opção. "O importante é fazer atividades físicas com regularidade, não com seriedade", diz o epidemiologista Adrian Bauman, da Universidade de New South Wales, na Austrália.

E se nada disso funcionar?Não é preciso muito exercício para ganhar saúde. Mesmo assim, a maioria das pessoas não é suficientemente ativa - só em São Paulo, os sedentários correspondem a 46% da população. Agora, o grande desafio dos médicos é encontrar argumentos para fazer o povo se mexer. Algumas idéias já foram comprovadas.

Em primeiro lugar, caminhe em vez de usar o carro. Em segundo, brinque mais com seus filhos. Além de se exercitar, você estará contribuindo para que eles também não se tornem sedentários (pais pouco ativos têm maior probabilidade de ter filhos obesos). "Crianças têm um instinto natural para o movimento. É só retirá-las da frente da televisão que elas começam a se movimentar e mudar rapidamente de atividade, o que para elas é o melhor tipo de exercício possível”, afirma Oded Bar-Or (se você é daqueles pais que colocam os filhos diante da tela exatamente para eles ficarem quietos, pense de novo).

Passeie com o cachorro. "A presença de um cão na família aumenta em mais de 15% o tempo que ela dedica às atividades físicas", afirma Adrian Bauman. Só ter o animal, no entanto, não adianta muito se ele não for levado para a rua. Segundo cálculos de Bauman, 9% das doenças cardíacas na Austrália poderiam ser evitadas se todos os donos de cachorros passeassem com seus animais.

Há como se exercitar mesmo onde não há nenhuma área verde. Em regiões de Hong Kong que possuem esse problema, uma campanha obteve sucesso estimulando os idosos a praticar caminhadas nos gigantescos shoppings da cidade. "A vida urbana tirou a atividade física da nossa realidade. Precisamos trazê-la de volta", diz Bauman. "No Brasil, vi pessoas dançando no ponto de ônibus enquanto esperavam. Em termos de saúde pública, isso é fantástico.”

Futuro: Esporte toda hora É possível que, dentro de alguns anos, a atividade física seja apenas uma questão de estilo de vida. Uma pesquisa realizada no Instituto Cooper, em Dallas, Estados Unidos, comparou dois grupos: um fazia atividades físicas de forma organizada, em equipamentos de academias, e outro praticava o mesmo tempo de exercício, mas informalmente, em blocos que variavam entre três e dez minutos. Os dois grupos melhoraram a pressão arterial, a tolerância à glicose e a taxa de gordura de forma idêntica. A única diferença ficou por conta da potência aeróbica, um pouco superior para os adeptos do exercício organizado. "Esses resultados ainda não são conclusivos, mas indicam que pequenos exercícios praticados ao longo do dia trazem quase os mesmos benefícios à saúde que séries mais longas", afirma Victor Matsudo. Se a descoberta for confirmada, ela mostrará que usar a escada em vez do elevador, esperar em pé no aeroporto ou estacionar o carro longe da entrada do shopping center podem trazer tantos benefícios quanto a malhação diária na academia.

Atitude: Pense bem O que é saúde? "É o completo bem estar físico, mental e social", afirma Antonio Carlos Lopes, da Unifesp. "Então, por definição, quem ganha salário mínimo não tem saúde", diz. Para a medicina de hoje, o estilo de vida, o trabalho, a família e a vizinhança são tão importantes quanto o funcionamento de órgãos e hormônios. Principalmente porque cada vez mais se percebe como esses fatores estão interligados.

Por trás da relação entre saúde e comportamento está a forma como lidamos com agentes estressantes. Eles são qualquer estímulo - como uma diminuição de temperatura ou um arranhão na perna - que force o nosso corpo a ter uma reação. Para responder a eles, o organismo libera dois tipos de hormônios. Os primeiros são adrenalina e noradrenalina, que estimulam o sistema cardiovascular e aumentam a pressão arterial. Os segundos são os corticóides, que possuem diversas funções no corpo, entre elas a de evitar inflamações.

O problema é que algumas situações do nosso dia-a-dia - como a falta de dinheiro, uma briga, uma prova ou uma reunião - são às vezes interpretadas como uma ameaça e desencadeiam os mesmos mecanismos. Para piorar, podem se estender durante meses e manter o corpo em constante estado de alerta. Os estragos são grandes. O excesso de adrenalina e noradrenalina faz o corpo funcionar em alta rotação e pode levar à hipertensão e a problemas vasculares. O excesso de corticóides, por sua vez, destrói células do cérebro (em especial do hipocampo, a região associada à formação de memória) e enfraquece o sistema imunológico, reduzindo a resistência a infecções.

"O estresse constante aumenta a probabilidade de problemas crônicos e infecciosos", diz o psicobiólogo José Roberto Leite, da Unifesp. Na maioria das vezes, os estímulos emocionais, mais do que as pressões objetivas do dia-a-dia, são os responsáveis pelos problemas de saúde. "Um chefe arbitrário é mais perigoso do que uma navalha na mão de uma criança", diz Antonio Carlos Lopes.

O que fazer O problema do estresse psicológico é que uma emoção negativa gera no cérebro uma resposta distorcida. A solução, portanto, é mudar a forma de interpretar as adversidades. "Quando você percebe que o problema não é tão ruim, ele deixa de ser estressante", diz José Roberto. Preocupado com a violência urbana? Tente analisar quais são as chances de você ser assaltado. Acha que sua vida é uma porcaria? Defina o que a faz tão ruim e compare com a situação de outras pessoas - salvo raras exceções, os outros terão dilemas semelhantes. "O essencial é racionalizar a preocupação e se concentrar apenas nos problemas que valem a pena", diz José Roberto Leite. "Na hora de agir, estabeleça metas, evite exageros e planeje com cuidado o que fazer."Como pouquíssimas pessoas têm disciplina para levar urna vida extremamente regrada, uma boa dica é aumentar ao máximo o nível de felicidade na sua vida. Dessa forma, você conseguirá encaixar sem dificuldade hábitos saudáveis em suas atividades diárias e evitar atitudes extremas. Conciliar trabalho com lazer, família e hobbies é a melhor forma de evitar que seu corpo fique sobrecarregado de hormônios decorrentes do estresse.

Pequenos ajustes no dia-a-dia também trazem benefícios extras. Tente, por exemplo, manter una postura correta. Além disso, respire mais pelo diafragma, logo acima da barriga, do que pelo tórax. "A respiração torácica é muito rápida e não elimina corretamente o gás carbônico", diz Flávio Dantas.

Futuro: Mil e um Benefícios A tentativa de prevenir doenças está ampliando o campo de ação dos médicos. "Há um enorme potencial para que a medicina entre em sinergia com outras ciências, como o urbanismo, a sociologia, as políticas públicas e a indústria tecnológica", afirma Michael Pratt. Um lugar bom para fazer exercícios, por exemplo, é uma área limpa e segura onde crianças brinquem e adultos possam conversar e montar uma comunidade. "já existem movimentos políticos que tentam melhorar o ambiente não só por uma questão de conforto e prazer, mas sim para evitar doenças", diz Pratt. A conclusão a que se chega é que promover saúde traz mais benefícios do que um corpo mais saudável. Ela também estimula a diminuição da criminalidade e da poluição (afinal, as pessoas fazem mais coisas a pé), além de gerar mais contato social e até envolvimento político.

E se nada disso funcionar? Se toda a análise e planejamento do mundo não foram suficientes para eliminar o estresse, talvez seja hora de tomar atitudes mais drásticas. "Para todo problema existe um elenco enorme de opções; a questão é escolher qual. Se o ambiente de trabalho é ruim, analise se a melhor opção é agüentar quieto ou simplesmente ir embora dali", diz Flávio Dantas. Da mesma forma, perceba se a relação com seus amigos é saudável e até se o lugar onde mora permite que você faça exercícios e tenha um bom contato com outras pessoas.

Quando todo o resto falhar, há a opção de rezar. "Estudos mostram que só o fato de se concentrar para orar, não importa para qual religião, melhora a saúde", afirma José Roberto Leite. O mecanismo ainda é desconhecido - rezar pode dar uma linha de conduta ou ser só um placebo. Mas, ao que indicam as pesquisas, ajuda.

Enfim, ter uma vida longa e saudável é mais fácil e barato do que se costuma acreditar. Você não precisa abandonar todos os prazeres nem mudar radicalmente o seu jeito de ser para ganhar alguns anos a mais de vida. E, uma vez que as atividades saudáveis comecem a mostrar seus benefícios - mais disposição, mais preparo físico e uma melhor auto-imagem, mais estímulos você terá para seguir em frente. Um brinde à saúde - à sua!


RAFAEL KENSKI

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

sábado, 25 de outubro de 2008

Entrevista com Robert Happe


CONSCIÊNCIA É A RESPOSTA

Robert Happé nasceu na Holanda. Estudou religiões e filosofias e dedicou-se a descobrir o significado da vida. Estudou também Vedanta, Budismo e Taoísmo no Oriente durante 14 anos, tendo vivido e trabalhado com nativos de diferentes culturas: Índia, Tibet, Camboja e Taiwan.

Sentiu necessidade de compartilhar o conhecimento adquirido e suas experiências de consciência.

Trabalhou em várias universidades e tem trabalhado continuamente com grupos de pessoas interessadas em autoconhecimento e desenvolvimento de seus próprios potenciais como seres criadores. Desde 1987 vem compartilhando informações em forma de seminários e workshops em todos os continentes. Seu trabalho é independente, estando totalmente desvinculado de organizações religiosas, seitas, cultos e outros grupos.

Assista a uma Vídeo Entrevista com Robert, com legendas em português

http://www.roberthappe.net/port/video.htm

domingo, 21 de setembro de 2008

Estudo: meditação Zen pode prevenir o Alzheimer


A prática Zen de "pensar em não pensar", que nunca foi muito levada a sério pela ciência, poderia ajudar a tratar distúrbios marcados por distração de pensamentos como déficit de atenção (o chamado DDA ou TDAH), hiperatividade, transtorno obsessivo-compulsivo, transtorno ansiedade, depressão e até a prevenir o Alzheimer.

As afirmações são de um novo estudo realizado por cientistas da Universidade Emory em Atlanta e financiados pelo Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos.
Na pesquisa, publicada no site Plos One, os cientistas descobriram que meses de intenso treinamento em meditação pode aguçar o cérebro das pessoas, fazendo-as mais atentas.

Segundo a tradição budista, a meditação Zen desencoraja a divagação mental e solicita ao praticante a manutenção de um foco na postura e respiração, mantendo plena consciência e uma atitude vigilante. A prática deve ser realizada com olhos abertos e em um lugar calmo e se deve descartar serenamente qualquer pensamento que traga distração, deve-se essencialmente "pensar em nada".

O resultado que os praticantes de meditação esperam alcançar ao longo do tempo é aprender a manter o 'espírito vagando' e alcançar uma maior percepção sobre o mundo e sobre si mesmo, conhecendo seus pensamentos inconscientes que podem vir por 'insigths'.

Para estudar tais efeitos da meditação e suas possíveis conseqüências para o cérebro, os cientistas realizaram testes com 24 pessoas - 12 praticantes de meditação há mais de três anos e 12 que nunca haviam realizado o exercício.

Os voluntários tiveram suas atividades neuronais registradas por estudos de imagem cerebral enquanto eram convidados a concentrar-se na própria respiração. De vez em quando, eles tinham que realizar exercícios como distinguir uma palavra em meio a outras exibidas aleatoriamente na tela de um computador e, depois, tentar concentrar-se o mais rapidamente possível de volta na respiração.

Os testes realizados em praticantes da meditação demonstraram que eles apresentavam atividade diferente em um conjunto de regiões cerebrais denominadas rede de modo de ausência (em inglês, network default), que se tornam mais ativas nos momentos de devaneio.

Depois de serem distraídos com o computador, os seus cérebros voltavam mais rapidamente à forma como estavam antes do que os dos participantes que nunca haviam praticado a meditação.

Estes resultados, segundo os pesquisadores, apontam que através da prática da meditação seria possível regular a mente através da regulação do corpo, o que significaria um aumento da capacidade de limitar as distrações.

Ao ensinar as pessoas a limpar as suas mentes, a meditação Zen pode ajudar a corrigir os sérios problemas mentais que são causados por desordem de pensamentos. E esses problemas - como o Alzheimer, o déficit de atenção, a hiperatividade, o transtorno obsessivo-compulsivo, o transtorno de ansiedade e a depressão - que atingem milhares de pessoas em todo o mundo, poderiam então ser prevenidos, controlados e até combatidos.

Louise Hay - Voce pode curar a sua Vida - Parte 09

Louise Hay - Voce pode curar a sua Vida - Parte 08

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Louise Hay - Voce pode curar a sua Vida - Parte 01

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

MEDITAÇÃO: afastando a mente ilusória


Comumente as pessoas me perguntam qual é a finalidade da meditação. Elas ficam intrigadas a respeito daqueles que sentam para meditar. Querem saber se a prática meditativa lhes traz algum benefício. “Você se sente melhor?” “Fica mais calmo?” “Levita?”, perguntam elas.


Certamente serenidade e bem-estar estão ligados à meditação.


Algumas criticam, dizem que é tedioso ou ilógico. No entanto, a maioria delas está apenas exteriorizando uma sadia e natural curiosidade. Elas desejam saber se a meditação traz algum auxílio para a vida cotidiana. O que acho muito bom. No entanto, tomam o cotidiano como base. A meditação faz muito mais do que apenas equilibrar os aspectos físico e emocional dos praticantes.


É perfeitamente compreensível entender porque algumas pessoas criticam; afinal, o mundo está tão acelerado que quando alguém pára por um momento a multidão o aponta como sendo extravagante e diferente. “O sujeito se senta no chão, não fala, não vê, não ouve, não usa o olfato, não sente, não pensa. Está fora de si”, dizem.


Mas é o mundo que está fora de si. As pessoas não querem desacelerar o relógio do progresso desvairado da mente humana. Vão em sua onda, sendo carregados, arrastados, seguindo suas estranhas e ilusórias regras. Como perceber um erro se todos estão de acordo com o erro? O erro se torna lei. Como se pode ver uma mancha negra em um fundo negro?


Os que preferem ser levados pela correnteza mental certamente não irão procurar a margem do rio para a ela se dirigirem. Mas quem percebeu ou vislumbrou que a correnteza segue infinitamente carregando seus inconscientes – dia após dia, ano após ano, encarnação após encarnação – suplica aos céus para que obtenha forças para nadar até a margem da Consciência. É a Voz do Deus interno chamando a essa margem. É a intuição que todo ser humano possui em seu âmago, velada pelo redemoinho descontrolado da mente e de seu rebento, o ego, juntamente com seus desejos, suas emoções, sua intelectualidade. A correnteza mental nunca pára. Jamais. Essa é a função dela: descer as águas da inconsciência eternamente rio abaixo.


Meditar é nadar para a margem. Quando você intuitivamente percebe que o mundo não faz sentido, inevitavelmente será levado a meditar. Você verá que não é possível obter respostas naquilo que seus sentidos lhe dizem, naquilo que suas emoções lhe sugerem, ou mesmo no que seu intelecto analisa e deduz. O que você busca está além desse trio de ilusões: os sentidos, as emoções e os pensamentos. Então compreenderá que não está buscando meios de decifrar enigmas, mas que não há enigmas a se decifrarem. Sentará, meditará e terá todas as respostas. Sentirá a Verdade, mas perceberá que as palavras não a alcançam, nem os pensamentos. Apenas um verter de lágrimas devocionais comunicará o que você vislumbrou. Tal Verdade esteve sempre presente, mas a velocidade do mundo, da mente, não permitiria que fosse percebida.


Não há ato mais nobre do que levar seu corpo, seu coração e sua mente para sentar e meditar sobre o límpido chão de um templo que se ergueu ao redor de um Mestre espiritual, o qual se conscientizou da Verdade e agora se predispõe como farol aos que ainda engatinham na margem da Consciência.


Quando meditar, não tenha pressa. É necessário parar e sentar.


Quando meditar, não tenha impaciências. A árvore não vem pronta. Na espiritualidade, nada vem pronto. Pingando gotas de água em um balde de lama, inevitavelmente obteremos um balde cheio de água límpida.


Quando meditar, não carregue seus fardos nos ombros. Deixe-os no portão do templo, do lado de fora e, na saída, recolha-os. Como poderá meditar se estiver em desequilíbrio físico, emocional ou mental? Alivie-se disso tudo, pois são todos coisas ilusórias. Um dia você sairá do templo e perceberá que não há mais fardos na saída, pois nunca houve.


O benefício que a meditação traz para a vida cotidiana é exatamente fazer perceber que essa mesma vida cotidiana é uma ilusão. Quem se inicia a meditar, buscando a cura para os seus males diários, surpreende-se ao ver que na verdade eles nunca existiram, senão dentro da ilusória mente.


Os problemas se apresentam gigantescos para aqueles que estão sendo levados pela correnteza. A meditação simplesmente mostra a irrealidade de tais questões. O grande monstro nada mais era do que uma sombra. O que pode a escuridão sobre a Luz da meditação, da espiritualidade? O personagem do drama se torna expectador, observador. Que desequilíbrio pode causar uma representação em uma branca tela?


Mas posso lhe dizer: tudo se unifica para aquele que medita. Desaparece o “eu” e o “você” e o "ele". Você passa a olhar para seu semelhante como se estivesse olhando para o seu filho mais amado, como se estivesse olhando para si mesmo. O Amor revelado pela prática meditativa, pela prática espiritual, tudo unifica. Apresenta-se a leveza de quem começa a perceber que toda separação é ilusória e que somente Deus persiste.


Meditar é afastar a mente ilusória, que nos esconde a Verdade da eterna presença do Supremo Ser, que está e sempre esteve em todos os lugares, em todos os dias, em todas as encarnações, em todos os planos. Quando meditamos, gradativamente diluímos e sutilizamos o peso, a densidade do mundo mental. A meditação contínua e persistente nos coloca de frente para a Consciência.


Crescemos, quando meditamos. A espiritualidade nunca pára de crescer, mesmo quando não percebemos seu avanço. Também não vemos a relva crescer, mas ela cresce.


Meditar é estar com o Pai. É a oração do meditador, sem palavras, pensamentos, ou emocionalidades. Deus está e sempre esteve presente, por detrás da ilusória cortina que a mente levanta.


Meditar é realmente um supremo privilégio.


terça-feira, 26 de agosto de 2008

Os Ritos Tibetanos



Todos buscam uma vida mais feliz com vitalidade, saúde e longevidade. Uma técnica prática que nos auxilia nessa busca, vem do Tibete.


Os ritos tibetanos formaram um conjunto de exercícios físicos com concentração, praticado nos altos Himalaias. Foram descobertos pelo ocidente em 1939 e praticados hoje por todo o planeta.


Seus movimentos estimulam os Chakras e a todo o sistema gandular com contração e alongamento. A prática é simples mas eficaz. Não se necessita muito tempo e em poucos dias já se notam beneficíos físicos e energéticos.


Se possível faça no inicio 3 repetições de cada movimento do rito e vá aumentando a cada semana até chegar a 21 repetições de cada movimento. Todo movimento se inicia com inspiração e contração das nádegas, e após o ápice do movimento, vá soltando o ar, voltando a posição inicial. Todos os exercicíos devem ser feitos com muita concentração e consciência corporal. A dor é sinal de que algum movimento está errado. Ouça uma boa música!!!


Os Ritos são cinco exercícios leves e rápidos, que podem ser feitos por qualquer pessoa, bastam vontade e concentração. Eles têm como objetivo harmonizar os sete centros de energia do nosso corpo, chamados também de chakras, localizados nas sete glândulas: reprodutora ou gônadas, pâncreas, supra-renais, timo, pineal ou epífise, e pituitária ou hipófise.
A Prática
O primeiro rito é muito simples: de pé, ereto, estenda os braços para os lados e gire da esquerda para direita de olhos abertos. A cabeça deve ficar voltada para frente, até terminar o giro de 360°, como fazem os bailarinos. Esse movimento acelera a velocidade dos centros de energia. No início pode dar um pouco de tontura; então, descanse com respiração leve.

Passe então para o rito número dois: deite-se de costas com os braços estendidos ao longo do corpo, as palmas das mãos abertas viradas para o chão, os dedos unidos. Erga a cabeça até encostar o queixo no peito e levante as pernas, com os joelhos retos, até ficarem na vertical. Faça uma respiração natural. Depois, desça a cabeça e as pernas estendidas, até voltar à posição inicial. Relaxe e repita.

O terceiro rito é feito de joelhos no chão, com o corpo ereto e os braços estendidos, com as palmas das mãos firmes junto à lateral das coxas. Incline a cabeça até encostar o queixo no peito. Depois leve a cabeça e todo o corpo para trás, mantendo-se ereto e firmando as mãos na parte posterior das coxas. Volte a posição inicial, respire profundamente e repita o movimento.

Para fazer o quarto rito sente-se com as pernas estendidas, os pés separados cerca de quarenta centímetros, o corpo reto e as mãos no chão, na altura do quadril, voltadas para frente. Incline a cabeça até o queixo tocar no peito. Depois, inspirando, leve a cabeça para trás e, ao mesmo tempo, erga o corpo, dobrando os joelhos, os pés totalmente no chão, os braços estendidos.


A posição final é parecida com uma mesa, o tronco e as coxas paralelas ao chão; as pernas e os braços retos como as pernas de uma mesa. Tencione todo o corpo e volte lentamente à posição original, expirando.

Inicie o rito número cinco, deitado de bruços no chão, cotovelos flexionados e as palmas das mãos no chão, na altura do busto. Inspirando, contraindo os músculos dos glúteos e das pernas, erga o tronco apoiando-se nas palmas das mãos e nos dedos dos pés. Mantendo pernas e braços esticados, eleve o quadril, arqueie o corpo até ficar um "v" invertido, tentando tocar o chão com o calcanhar. Volte à posição original devagar, expirando.

Só faça esses ritos se realmente desejar ser mais feliz, saudável e viver mais.

sábado, 16 de agosto de 2008

ORAÇÂO DOS BUDAS


Que todos os seres machucadospossam ser curados na luz da compaixão.Que do coração de todos os Budaspossam brotar as ondas de serenidade.

Que, no silêncio do invisível,ecoe o chamado espiritual para a regeneração.

Que os gritos de aflição sejamtransformados em lindas canções espirituais.Que as regiões abismais sejamtransformadas em jardins floridos.

Que o perfume da paz perenese propague pelo éter, em todos os corações.Que as correntes das dores antigasse partam diante da acção da luz serena.
Que os esquecidos do mundo saibamque todos os Budas os amam.Que os seus pensamentos esentimentos sejam tocadossecretamente, pelo amor.

Que a escuridão do ego seja diluídapela acção da luz serena e incondicional.Que todos os corações partidossejam novamente unidos no coração dos Budas.Que seja possível escutar músicanovamente e abrir o coração ao infinito...

Que as placas de ódio se diluamno abraço subtil dos Budas que velam na noite.Que seja possível novamente seencantar com a vida, em todos os planos.Que as feridas dos dias sombriossejam curadas na luz dos Budas silenciosos.

Que seja possível renovar os caminhos,as escolhas e os actos, para voltar a viver.Que os Budas transformem aslembranças dos dias amargos em risadas gostosas.

Que seja possível entregar-se aocálido abraço da compaixão incondicional.Para que, inspirados pelos Budas,todos despertem e se tornem Budas também.

Om Mani Padme Hum!

Om Mani Padme Hum!

Om Mani Padme Hum!

quinta-feira, 31 de julho de 2008

Meditação Caminhando


Outra forma maravilhosa de se acalmar quando estamos chateados é andar. Enquanto andamos, prestamos atenção a cada passo que damos. Notamos como cada pé toca o solo. A Terra é nossa mãe. Quando estamos longe da Mãe natureza, ficamos doentes. Cada passo que damos nos permite tocar nossa mãe, de forma que possamos ficar bem de novo. Muito dano tem sido feito à Mãe Terra, portanto agora é hora de beijar a Terra com nossos pés, com o nosso amor.

Enquanto estiver andando, sorria – esteja no aqui agora. Fazendo assim, você transforma o lugar onde está andando no paraíso. Ande devagar. Não corra. Cada passo traz você ao melhor momento da sua vida, o momento presente.

Se você disser o gatha (poema) que se segue para si mesmo enquanto anda, sua caminhada será mais agradável:

Inspirando, sei que estou inspirando.
Expirando, sei que estou expirando.

Enquanto minha inspiração fica mais profunda
Minha expiração fica lenta

Inspirando, acalmo meu corpo.
Expirando, fico à vontade.

Inspirando, sorrio
Expirando, solto

Habitando no momento presente
Sei que é um momento maravilhoso

Ao continuar caminhando e respirando, você pode encurtar o gatha para: Inspirando/ Expirando, Profundo/ Lento, Calmo/ À Vontade, Sorrio/ Solto, Momento Presente/ Momento Maravilhoso.

Durante a sua caminhada, pare para observar as coisas belas ao seu redor, abaixo de você e acima de você. Continue a inspirar e expirar, de forma a ficar em contato com essas coisas maravilhosas. No momento em que você parar, esteja consciente da sua respiração, senão as coisas bonitas podem desaparecer e os pensamentos e preocupações podem se estabelecer na sua mente novamente.

Apenas permita a você mesmo ser! Permita a si mesmo desfrutar estar no momento presente. A Terra é tão bonita. Desfrute do planeta Terra. Você é bonito também, é uma maravilha como a Terra. Andar assim é chamado meditação caminhando.

Lembre que enquanto você caminha, não está indo para nenhum lugar, assim cada passo te ajuda a chegar. Chegar aonde? Chegar no momento presente – chegar no aqui e agora. Você não precisa de mais nada para ser feliz.

Alguma crianças de Plum Village expressaram dessa maneira:

GAIA: Meditação caminhando é, portanto, você notar tudo ao seu redor. Você ouve sua respiração. Se você nunca andar em plena atenção, sua vida toda pode passar sem você notar. Pense que pena seria se você passasse por toda sua vida pensando apenas no que ia acontecer em seguida e nunca notar nada mais, nunca conhecer como o mundo é. Isto seria muito triste.

Bem-vindo ao agora!


Utilizar técnicas de atenção plena para aceitar o presente e para vivê-lo de forma intensa pode ajudar a controlar o stress e modificar comportamentos inadequados, harmonizando pensamentos e sentimentos


Depois da segunda caneca de cerveja, minha concentração acabou. Bebida e música alta atrapalhavam qualquer tentativa de ouvir minha própria respiração. Debruçado sobre a mesa, eu falava ininterruptamente com a pessoa à minha frente. Minhas palavras pareciam um pouco deslocadas em meio à bagunça. Não importa, eu precisava falar: naquele mesmo dia eu havia meditado por sete horas inteiras. Até então, nunca havia me entregado a essa prática –- pelo menos não seriamente. E me sentia como se tivesse carregado as baterias.


Pela manhã, havia participado da atividade no grande salão de conferências do Centro de Psicoterapia Integrativa (CIP) de Munique, com 18 noviços – 17 mulheres e um homem. Meditação fazia parte de um curso de extensão para terapeutas e médicos interessados em aprender fundamentos da atenção plena, - pois quem pretende utilizar a prática com seus pacientes deve primeiro exercitá-la. No meio da sala, em volta de um girassol pintado sobre o assoalho, foram espalhados vários cartões-postais. Em vez das apresentações usuais, os participantes foram orientados a escolher uma figura que representasse seu estado de espírito naquele momento. Eu me decido por uma vista do rio Sena, me sinto como se estivesse de férias.

Deitados de costas, “percorremos” mentalmente nosso corpo. Esse primeiro exercício é chamado justamente de body scan. Guiados pela voz da psicóloga Petra Meibert, que coordena a atividade, o foco de atenção se desloca pouco a pouco, partindo dos pés, passando pelas pernas, torso e braços até chegar à cabeça, procurando “sentir” cada órgão. Mantenho-me concentrado e procuro desconsiderar sinais de cansaço. Mas já na próxima meditação, sentado, esbarro em meus limites. “Sua respiração é uma âncora que sempre o traz de volta para o aqui e o agora”, observa a professora com voz suave. “Cada inspiração é um novo começo e cada expiração é um desprendimento.”


Mal ela faz uma pausa de alguns segundos, meus pensamentos já se desviavam: um redemoinho irresistível de imagens, lembranças e pensamentos. Será que vou para casa no intervalo do almoço ou como alguma coisa aqui por perto? Onde foi que coloquei minha carteira? Eu estava em todo lugar, só não estava ali comigo, naquele momento. “Onde está a sua atenção agora?”, perguntou Meibert. Ai, fui pego no pulo!, pensei. Petra Meibert ensina meditação desde 2002. Como docente do -Instituto de Atenção Plena e Controle do Stress, ela passou a oferecer também cursos de aperfeiçoamento para terapeutas. E ela não pode se queixar de pouca demanda: a chamada “meditação curativa”, sem a significação espiritual, parece estar na moda.


Após ter sido rejeitada por escolas médicas ocidentais como esotérica por muito tempo, houve um boom de tentativas terapêuticas de utilizar exercícios de atenção plena para resolver problemas psicossomáticos, stress, depressões, dependência de nicotina e até mesmo distúrbios de personalidade. Um passo importante nessa direção foi dado no fim dos anos 70 pelo biólogo e médico americano Jon Kabat-Zinn. Ele defendia que não são as condições externas que causam stress, e sim a forma como lidamos com esses acontecimentos.


Com base em sua própria experiência com meditação, Kabat-Zinn desenvolveu um programa de relaxamento com duração de oito semanas, durante o qual o participante deve aprender a “dedicar atenção plena ao momento, sem julgá-lo”. Ou seja: não procurar atribuir valores a qualquer sensação ou pensamento que lhe ocorrer, classificando-os como bons ou ruins. A proposta é simplesmente observar com benevolência aquilo que está acontecendo no “agora”. E, pelo menos por um instante, abandonar a trilha sempre percorrida pelo raciocínio e pelos sentimentos, desligar o “piloto automático” – metáfora preferida de Kabat-Zinn.


Aquele que conseguir fazê-lo encontrará paz interior e serenidade, garante o pioneiro da atenção plena, pois a maioria dos sofrimentos psíquicos está escondida nas reações automáticas do dia-a-dia, das quais praticamente não temos consciência. Estar atento ao momento presente pode nos ajudar a interrompê-las. Ao final dessa “desautomatização” obteríamos, portanto, um estado de lucidez e serenidade: uma espécie de nirvana do homem moderno. Mas certamente o caminho até lá é longo, já que a maioria das pessoas só consegue manter a atenção focada em um objeto por, no máximo, alguns minutos.


“Nossa cabeça é permanentemente assombrada por pensamentos sobre o que ocorreu antes ou planos para o que faremos, o que nos impede de perceber o momento imparcialmente. Exercitar a atenção plena, portanto, significa primeiramente nos concentrarmos em nosso funcionamento mental”, diz Meibert. A estratégia de redução de stress -– MBSR, mindfulness-based stress reduction – desenvolvida por Kabat-Zinn prevê o desenvolvimento da atenção plena por meio de exercícios “formais”: além do body scan, são utilizadas posições simples de ioga, assim como meditações em posição sentada ou caminhando. As aulas semanais em grupo não bastam, cada um deve treinar sozinho até uma hora por dia.


SABOR DE CONSCIÊNCIA Ações ou objetos aparentemente banais podem se tornar úteis para os exercícios. A diretora do Instituto de Atenção Plena, Linda Lehrhaupt, conta, por exemplo, que vários alunos se espantam quando são convidados a apenas observar uma uva-passa com o máximo de concentração que conseguirem, imaginar o seu sabor sobre a língua, colocá-la na boca e só então saborear o doce da fruta da forma mais intensa possível. Uma “lição de casa” bastante comum: desempenhar uma atividade cotidiana à sua escolha com a maior atenção possível! Seja amarrar um cadarço, pentear os cabelos ou beber um copo de água. Embora pareça fácil, nem todos conseguem desempenhar tranqüilamente essa atividade com profunda concentração.


Três importantes estudos comprovaram, nos últimos anos, a eficácia dos procedimentos baseados na atenção plena. Um dos autores, o psiquiatra Scott R. Bishop, professor da Universidade de Toronto, considera “bastante possível que a efetividade desse método está mais relacionada a características de personalidade das pessoas que se sentem atraídos por ele do que ao método em si”. Faltam estudos que comprovem essa hipótese, mas é sensato considerar que a prática da meditação pressupõe certo grau de disponibilidade para o contato consigo mesmo. O termo “atenção plena” vem o budismo: um de seus livros mais significativos, a Satipatthana Sutta, ressalta que a atenção plena deve ser desenvolvida em quatro âmbitos: do corpo, das sensações, da mente e dos “objetos mentais”.


Segundo a obra, a prática é fundamental para atingir a sabedoria. Vários psicoterapeutas adeptos da prática, porém, temem que seja banalizada como um método psicológico oportuno. “Atenção plena não é uma técnica mental, mas uma postura”, ressalta Petra Meibert. Apesar dos temores de descaracterização de práticas milenares, a tradição oriental e a medicina ocidental nunca estiveram tão próximas, como mostra o interesse do Dalai Lama pela neurologia. É verdade que já se sabe muito sobre processos que ocorrem no cérebro durante a meditação (ver quadro na pág. 92).


Mas será que o mergulho interior regular também opera mudanças psicológicas de longa duração? Afinal, a prática da atenção plena não tem como objetivo fazer com que a pessoa se sinta especialmente bem durante o exercício. A recompensa ao esforço consiste muito mais em adquirir condições para lidar melhor, na vida diária, com stress, temores ou melancolia. Pois, segundo a teoria, as pessoas com prática em atenção plena são mais equilibradas e menos susceptíveis a estímulos externos ou internos que causem desconforto. O psicólogo Willi Zeidler, professor da Universidade Técnica de Berlim, testou essa teoria em 2006, avaliando o reflexo de fechamento das pálpebras, reação natural ao susto, como critério. Essa ação ocorre, por exemplo, como conseqüência de um estampido alto e é difícil de ser controlada voluntariamente.


A força com que a pálpebra se fecha, porém, pode ser manipulada experimentalmente por meio do chamado priming (do inglês prime, preparar). Durante o experimento, são apresentadas aos participantes imagens que podem despertar emotividade, como um pôr-do-sol romântico ou uma cena de um acidente grave. Se a pessoa testada estiver propensa à evitação, as pálpebras são cerradas com mais força como reação ao estampido que se segue. Zeidler supõe que se pessoas com experiência em meditação são menos impregnadas por suas reações emotivas, então esse efeito modulador deveria ser claramente menos marcante nelas. O fechamento da pálpebra não deveria sofrer influência das imagens assustadoras.


Participaram de seu estudo 35 voluntários com tempo de prática de meditação que variava de dois meses a 40 anos. O psicólogo constatou que quanto maior a experiência, menos o seu reflexo de susto era reforçado pelo priming emocional. Os meditadores avaliavam as imagens atrozes tão negativamente quanto pessoas que não exercitavam a meditação – mas, no caso dos primeiros, o seu efeito esmaecia relativamente rápido. DONOS DO DESTINO Há pouco tempo, o efeito do treinamento da atenção plena sobre o estado de diferentes grupos de pacientes também foi estudado com detalhes. O casal de psicólogos Paul Grossmann e Ulrike Kesper-Grossmann realizou um trabalho pioneiro nessa área na Alemanha. Um resultado importante: a percepção de si próprio estimulada pelos exercícios de atenção plena muitas vezes está associada a um aumento da auto-eficácia.


O termo é usado pelos dois pesquisadores para indicar o grau de convicção subjetiva de que somos capazes de influenciar nosso próprio destino e, em vez de vítimas de condições incontroláveis, senhores de nossas escolhas -– conscientes ou não. Essa capacidade, central para muitas linhas terapêuticas, está diretamente vinculada ao valor e à aceitação de si. Aqui, a atenção plena aparentemente tem efeito positivo e, portanto, hoje – já que as fronteiras entre as diversas escolas estão cada vez mais tênues – ela também é adotada pela psicoterapia clássica. Um grupo coordenado pelos pesquisadores Zindel Segal, da Universidade de Toronto, e John Teasdale e Mark Williams, da Universidade de Oxford, adaptou o programa de Kabat-Zinn para o tratamento de pessoas com depressão, combinando métodos da terapia comportamental cognitiva. Se os pacientes recebem alta após uma fase aguda e param de tomar seus medicamentos, freqüentemente ocorrem recaídas: até oito entre dez pessoas voltam ao buraco emocional.


Essa situação pode ser prevenida por meio da terapia cognitiva baseada na atenção plena (MBCT, mindfullness-based cognitive therapy). Em testes clínicos, o tratamento reduziu a tendência de os pacientes se preocuparem exageradamente com fatos corriqueiros e se torturar com ressentimentos. O hábito de pensar constantemente nos problemas, a ponto de se sentir tomado por eles, e em supostas deficiências pode ser reduzido por meio de técnicas de introspecção: o indivíduo consegue “separar-se” mais facilmente de avaliações negativas e, dessa forma, passa a encarar algumas “falhas” de forma mais tranqüila. Na opinião do psicólogo Peter Fiedler, da Universidade de Heidelberg, o procedimento, porém, tem algumas limitações. “Em muitos casos, esses exercícios não são suficientes e às vezes chegam a ser prejudiciais.” Se o distúrbio depressivo tem raiz em uma situação, separação ou morte de uma pessoa próxima, a tentativa de “aceitar a situação sem julgá-la” pode piorar ainda mais a crise psíquica, já que reconhecer sentimentos desagradáveis como dor, raiva e falta é fundamental para a elaboração do luto.


Fiedler aconselha cautela – o apelo de que “todas as coisas são boas assim como são” não pode substituir o diálogo terapêutico orientado. Stress e depressão não são, porém, os únicos campos de aplicação da atenção plena. Existem hoje várias utilizações promissoras para o tratamento de dores crônicas e vítimas de traumas. Em ambos os casos, o efeito aparentemente paradoxal causa surpresa: justamente a atitude de investigar os próprios sentimentos e se concentrar atentamente nas associações surgidas reduz o sofrimento dos pacientes. A professora de psicologia Marsha Linehan, da Universidade de Washington, em Seatle, utiliza exercícios de atenção plena até mesmo para o tratamento de pacientes com transtorno borderline (ou de personalidade limítrofe).


Segundo a Associação Brasileira de Psiquiatria, (ABP), o distúrbio psiquiátrico afeta cerca de 2% dos adultos, principalmente mulheres jovens. O quadro é caracterizado por grande instabilidade emocional – quase sempre deflagrada por experiências anteriores traumáticas com os pais ou outras pessoas próximas. Stress, rejeição e outros fracassos podem desencadear crises de agressividade, automutilação e tentativas de suicídio. Na terapia dialético-behaviorista desenvolvida por Linehan, são utilizados princípios da psicologia cognitiva, o segundo os quais os sentimentos, bons ou ruins, freqüentemente resultam da forma como valorizamos certas percepções. Por exemplo, o pensamento “que dia bonito!” nos predispõe à tranqüilidade, assim como atribuições negativas do tipo “eu não sei nada e não valho nada” representam golpes emocionais. Ao estimular a capacidade consciente dos pacientes de aceitar os fatos como são, Linehan atingiu resultados terapêuticos consideráveis. De acordo com o mote (aparentemente contraditório) “aceitar significa modificar”, o treinamento da atenção plena fez com que os pacientes conseguissem controlar melhor suas reações impulsivas e passassem a se valorizar mais de maneira geral.


Usada também para ajudar a melhorar a qualidade de pessoas com doenças graves, por gente empenhada em abandonar o cigarro e como coadjuvante no tratamento da hipertensão, a meditação pela atenção plena está sendo agora testada em pacientes com distúrbios psicossomáticos. Os mais otimistas poderiam supor que se trata de arma milagrosa contra todos os males do mundo. A euforia, porém, provavelmente turva o fato de que os relatórios clínicos de efetividade da atenção plena quase sempre vêm de cientistas e terapeutas que adotam, eles próprios, esse método em sua prática profissional. Além disso, as pesquisas sobre a maioria das aplicações ainda são incipientes. Assim, ainda permanece em aberto a que exatamente se podem atribuir os efeitos positivos: à meditação em si, à vivência com o grupo ou ao estímulo generalizado para que a pessoa lide mais consigo mesma e com o próprio corpo? Uma outra questão metodológica a ser considerada é o quanto o sucesso dos exercícios depende da personalidade dos praticantes.


De qualquer forma, pode-se imaginar que pessoas que são, em geral, mais equilibradas emocionalmente reagem melhor à meditação. Assim, como método terapêutico, a atividade não seria adequada a qualquer pessoa. Mas como “medir” a atenção e pesquisar seus efeitos clínicos? Para budistas mais radicais, essa proposta pode parecer difícil de ser compreendida. No entanto, hoje são as próprias pessoas que lidam com a atenção plena que buscam uma prova científica de seus benefícios. Uma associação dos terapeutas de atenção plena, criada há pouco, pretende estabelecer normas fixas para a formação de profissionais. A fim de formular empiricamente uma teoria sobre o tema, já foram desenvolvidos diversos instrumentos – na Alemanha, por exemplo, foi criado o Questionário de Freiburg sobre Atenção Plena (Freiburger Fragebogen für Achtsamkeit – FFA) pelos psicólogos Nina Buchheld e Harald Walach. Os participantes da pesquisa observam e informam como está sua própria atenção em diferentes situações. A confiabilidade desses questionários ainda deve ser testada em pesquisas mais amplas.


Mas, de qualquer maneira, os primeiros estudos clínicos feitos com pacientes com diagnósticos de pânico e depressão já mostraram que a “observação imparcial” de processos internos está fortemente associada à melhora dos sintomas das doenças. O fato é que mesmo que nem sempre onde se anuncia a “atenção plena” exista um conceito terapêutico completamente assegurado cientificamente, o interesse pelas técnicas de meditação ajuda muitas pessoas a ultrapassar obstáculos antigos. Tradução de Renata Dias Mundt


CONCEITOS-CHAVE -


Procedimentos baseados na atenção plena têm sido cada vez mais adotados pela medicina e pela psicoterapia. Exercícios de atenção aumentam a percepção do corpo e estimulam a vivência imparcial do momento. - O termo “atenção plena” vem do budismo: um de seus livros de referência, Satipatthana Sutta, ressalta que a atividade deve ser desenvolvida em quatro âmbitos: do corpo, das sensações, da mente e dos “objetos mentais”. - Um programa de oito semanas para combate ao stress (MBSR) desenvolvido pelo médico americano Jon Kabat-Zinn, da Universidade de Massachusetts, associou pela primeira vez, em 1979, técnicas de meditação oriental com a escola médica ocidental. - Aplicações clínicas da atenção plena são hoje variadas: estudos relatam, por exemplo, eficácia no tratamento de sintomas de stress, dores crônicas, depressão e distúrbios da personalidade limítrofe. No entanto, ainda não há provas científicas asseguradas metodicamente.


BIOLOGIA QUE AGRADA A BUDA


Tanto as pesquisas sobre as bases neurológicas da experiência mística como os estudos sobre a genética das religiões interessam principalmente aos seguidores das religiões orientais, em particular do hinduísmo e do budismo, porque combinam com suas concepções filosóficas. Tanto que o líder do budismo tibetano, o Dalai Lama, criou e financiou o Mind and Life Institute (www.mindandlife.org), um centro de pesquisa que tem como objetivo estudar o cérebro durante a meditação e as experiências místicas. Também a idéia da existência de um gene da espiritualidade agrada aos budistas, cuja teoria da reencarnação prevê que se possa receber uma pequena herança espiritual da pessoa que se era na vida precedente. Segundo a crença, esse elemento, combinado com dois grandes genes herdados dos pais, contribui para criar o perfil físico e espiritual do novo ser humano.


ALTERAÇÕES NO CÉREBRO DURANTE A MEDITAÇÃO


Nos últimos anos, exames feitos com procedimentos por imagem revelaram o que acontece na cabeça das pessoas quando estão meditando e quanto esforço cerebral é necessário para que consigamos atingir um estado de introspecção. A atividade de algumas regiões do cérebro pode ser facilmente compreendida com base em pressupostos fundamentais. Em primeiro lugar, o meditador precisa focar sua atenção em um ponto determinado. Essa atividade é realizada por uma parte do córtex pré-frontal, localizado no cérebro frontal. Por outro lado, estímulos externos perturbadores precisam ser “desligados”. Isso é providenciado pelo córtex cingular anterior (CCA). Essa área cerebral também participa de outros processos cognitivos, por exemplo, quando as pessoas passam pelo teste de Stroop: elas têm de dizer em voz alta a cor das letras que são mostradas em um monitor; a palavra, porém, significa outra cor (ver quadro abaixo). Para se conseguir diante da palavra “vermelho” (grafada em verde) dizer realmente “verde” – e não “vermelho” – o que está escrito deve ser ignorado. Isso é muito difícil no começo, porém, após um pouco de treino, o CCA simplesmente desliga o estímulo perturbador.


Em um estudo realizado na Escola Médica de Harvard, em 2000, a pesquisadora Sara Lazar descobriu por meio da tomografia funcional por ressonância magnética (TfRM) outras áreas do cérebro que desempenham algum papel durante a meditação. Ela percebeu que havia elevada atividade não só nas regiões do córtex pré-frontal e do cingular anterior, mas também no córtex parietal, no hipocampo e no corpo estriado (striatum), que é parte dos gânglios basais. Além disso, neurologistas do Hospital Geral de Massachusetts mostraram em 2005 que a meditação regular provoca alterações no cerebelo – justamente nas partes do córtex cerebelar que participam da percepção e dos processos emocionais. Resultados dos estudos do neurocientista americano Richard Davidson, diretor do Laboratório de Neurociência Afetiva da Universidade de Wisconsin, em Madison, também causaram admiração há pouco tempo. O estudioso das emoções, colaborador do Dalai Lama desde 1992, examinou a atividade cerebral de monges tibetanos enquanto eles meditavam.


O seu gráfico de atividades neuronais indicava não apenas um estado de intensiva concentração, como já era de esperar – mas também alterações perceptíveis no lobo frontal, importante para o controle das ações. Foi constatado que monges experientes apresentaram grande atividade no córtex frontal esquerdo. Testes do tipo antes-e-depois feitos com novatos em meditação que haviam concluído o programa anti-stress de Kabat-Zinn confirmaram: em comparação com o lobo frontal direito das pessoas testadas, o esquerdo se tornava gradualmente mais ativo durante períodos cada vez mais longos. Se essa transferência está relacionada ao “efeito de bem-estar” relatado pelo praticante, porém, ainda é uma questão polêmica.


PARA ESCUTAR MELHOR O PACIENTE


De acordo com a teoria psicanalítica, cabe ao paciente seguir a chamada regra de ouro proposta por Freud: a associação livre, ou seja, dizer ao terapeuta, durante a sessão, tudo o que lhe vier à mente. Ao analista corresponde a atenção flutuante – uma escuta sem julgamentos, como se “flutuasse” no discurso do analisando. Para o psicanalista Ignácio Gerber, membro e professor da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo, praticante de meditação taoísta, essa postura guarda paralelos com a prática meditativa, na qual se procura aprofundar a consciência sem se prender a nada específico, mantendo-se efetivamente presente. Talvez por causa dessa proximidade, cada vez mais psicólogos, psicanalistas e outros profissionais da área da saúde vêm buscando conhecer técnicas de concentração e meditação com o objetivo de aprimorar a capacidade de escutar aqueles que buscam seus serviços. “Não podemos supor uma relação de causa e efeito ou simplificar dois campos de conhecimento tão vastos, mas sem dúvida podemos falar em interfaces entre meditação e psicanálise”, afirma a psicóloga e pesquisadora Márcia Finker, mestre pela Universidade de São Paulo (USP), coordenadora de grupos de profissionais interessados em conhecer ou aprimorar a prática meditativa